domingo, 29 de novembro de 2009

Em busca da fantasia perdida: a saga - Parte II


A primeira coisa que eu queria procurar era o chapéu, então ativei o radar para o modo “chapéu” e lá fui eu andando de um lado da rua procurando lojas que pudessem ter o acessório. Entrei na primeira e perguntei para um vendedor. Ele me levou até a parte da loja onde tinha vários modelos, desde o boné até as boinas, mas nada do modelo que eu queria.
Agradeci e fui sair de volta à rua. Bastou eu botar o pé para fora da loja e BAM! Trombei com algum transeunte que passava apressadamente pela calçada. Foi quando percebi que bastou eu passar um único minuto dentro de uma loja para todas as pessoas finalmente chegarem e começar o típico inferninho de sábado de manhã na Rua Grande.
Respirei fundo e lembrei a mim mesma que eu já estava preparada psicologicamente para isso, e emendei o passo. Loja aqui, loja acolá. Lojas do lado direito, lojas do lado esquerdo. “Moço, tem chapéu preto ou cinza escuro?”. “Tem de palha”. “Não, obrigada.” Sorrisinho simpático.
E assim foi. Toda loja que eu entrava e perguntava por chapéu, me mostravam um de palha, estilo panamá. Até que comecei a adaptar minha forma de abordagem. Comecei com a simples “tem chapéu preto ou cinza escuro?”, e passei para “tem chapéu escuro de tecido ou napa?”, depois fui para “tem chapéu escuro de tecido ou napa ou camurça daquele modelo clássico?”, e em seguida para “tem chapéu escuro de tecido, napa ou camurça, daquele modelo clássico estilo década de 20 ou 30?”. Até que por fim fiquei com o prático “tem chapéu tipo de gângster?”.
O problema é que invariavelmente TODAS AS VEZES o(a) vendedor(a) me oferecia o bendito chapéu de palha estilo panamá. Alguns ainda me mostravam um preto, mas quando não, era o bege mesmo. E tentavam me empurrar a qualquer custo dizendo “vai ficar legal esse”. Àquela altura eu já estava irritada com a incapacidade dos vendedores entenderem que eu queria ir fantasiada de gângster, e não de malandro ou dançarino de gafieira tipo Carlinhos de Jesus.
Mas desisti de vez do chapéu quando entrei numa loja, fiz a mesma pergunta que já tinha repetido tantas vezes e lá foi mais uma vez o vendedor me oferecer o tal chapéu de palha, estilo panamá, bege. Mais uma vez dei um sorrisinho amarelo e disse:
-Não, não é assim, obrigada.
Ao que ele me responde:
-Leva esse e pinta de preto com spray.
Levantei a vista do chapéu para olhar para o vendedor e procurar um traço de brincadeira no rosto dele. Mas ele estava falando sério. Por um momento pensei que ele já ia me indicar a loja onde eu poderia comprar o tal spray, e antes que isso acontecesse e eu mandasse ele tomar onde as patas tomam, devolvi o chapéu para ele e saí pisando duro da loja.
Depois dessa, resolvi mudar o radar para o modo “arma”. Calma, calma. Era a arma de brinquedo, que seria o próximo item dos acessórios. Eu ainda não estava com instintos homicidas (ainda!). E lá fui eu atrás de lojas de brinquedo em busca da arma que eu tinha em mente. Tal qual nos filmes que retratavam a época típica dos gângsters (década de 20 e 30) a minha ideia era de uma metralhadora daquelas antigas, não muito grande, com o tambor redondo grande. Era essa a arma que eu via em todas as fotos de fantasias de gângster, e eu queria uma igual.
Mas durante a minha busca percebi que seria mais difícil do que a odisseia do chapéu. Por quê? Por que eu sou lerda e tinha me esquecido que o Estatuto do Desarmamento proibiu a fabricação e comercialização de brinquedos que simulem armas de fogo ou que possam se confundir com elas (art. 26 da Lei nº 10.826/03). Bela bacharela em Direito que eu sou, hein?
Ou seja, brincadeira de polícia e ladrão hoje em dia voltou para época em que a gente usava os dedos indicador e polegar para simular as armas. Todo e qualquer brinquedo que simule arma de fogo saiu de circulação. Quer dizer, nem todos. Ainda são permitidas aquelas pistolinhas coloridas de água, tipo verde cana, amarelo canário e laranja fluorescente. A justificativa é que essas coisas não se confundem nem de longe com uma arma de verdade. Nem de longe mesmo!
Mas, antes que eu me lembrasse disso, ainda caí na besteira de entrar em uma loja de brinquedos e perguntar na maior inocência para o vendedor (depois de percorrer todos os corredores procurando a sessão certa) se eles tinham a tal metralhadora ou pelo menos um revolver, uma pistolinha, ou algo assim.
A reação dele foi esdrúxula. Arregalou o olho para mim e começou a me dar um sermão:
-Arma de brinquedo?! Você quer incentivar a violência colocando nas mãos de uma criança uma coisa dessas?? Por que você não pensa num presente mais saudável como um carrinho, uma bola...
Ainda meio atordoada com a reação interrompi a hemorragia verbal dele e disse:
-Calma, moço! Não é pra dar pra nenhuma criança, não. É pra mim mesma.
Acho que foi até pior, porque ele me olhou de um jeito como quem desconfia que eu estivesse planejando algo sinistro. E tive que emendar:
-É pra compor uma fantasia pra uma festa que eu vou. Vou fantasiada de gângster. E toda gângster que se preze tem que ter uma arma, né? – sorrisinho amarelo envergonhado.
Onde diabos estava a minha altivez? Eu tendo que me explicar para o vendedor quando a gente poderia se entender apenas com um simples “tem arma de brinquedo?”, “não, senhorita. Não temos”, “Ok, obrigada”. Mas não. Lá estava eu com medo que o vendedor pensasse que eu era alguma incentivadora da violência urbana e queria montar meu exército de pequenos disseminadores de balbúrdia. Ou então eu mesma ser um ícone de rebeldia violenta.
A minha humildade e preocupação acabou no instante em que ele resolveu se meter na minha escolha de fantasia:
-Por que em vez de ir de gângster você não vai de fada? Você ia ficar linda vestida de fadinha. – sorrisinho sedutor me olhando de cima a baixo.
Coméquié?! Sorrisinho sedutor?! Quer dizer que primeiro ele me dá sermão por achar que eu sou a favor da violência, e agora ele insinua uma paquera comigo? Respondi mentalmente para ele “Não vou de fadinha porque não quero encontrar sua mãe, sua irmã, sua tia e sua avó, além de mais 3456 pessoas vestidas com a mesma fantasia que eu na festa! E antes que eu me esqueça... vá se f**!!”.
Mas na prática consegui responder usando toda a minha capacidade de elevação espiritual e paciência com um simples “não, obrigada” dito entre os dentes cerrados. E mais uma vez saí pisando duro. Quase marchando. E naquela hora eu quis mesmo ter uma arma, nem que fosse de brinquedo, para pelo menos jogar na cabeça do infeliz, e rachá-la ao meio.
Quando voltei para o meio da confusão que era a rua, bateu o desespero. A manhã já tinha ido quase toda embora, o sol estava rachando, eu estava com fome, com sede e sem nenhum item da minha lista comprado. Vaguei um pouco pela rua sem saber o que fazer, com a imagem na minha mente da minha fantasia com asinhas voando para longe e me dando tchau. Até que avistei uma loja de cosméticos com uma promoção de esmaltes.
Adoooooro esmaltes! E lá fui eu toda saltitante atravessar a rua em direção à loja para salvar o dia. Pelo menos com um esmalte novo eu voltava para casa, pensei. Não seria uma manhã completamente perdida, afinal.
Escolhi dois para levar e testei um deles (pink) em uma das minhas unhas para ver se era a tonalidade que eu queria. Saí com o espírito levemente mais alegre da loja, e de volta ao calor de uns 56° que estava fazendo lá fora. Limpa suor na testa para cá, limpa suor da testa para lá. Pela primeira vez cogitei a possibilidade de comprar aqueles lencinhos de tecido que vem numa embalagem com três e que minha mãe sempre comprava para dar de presente no amigo-invisível de fim de ano do trabalho dela, caso ela tirasse um homem. Eu achava um presente tão sem graça, mas naquele momento vi que poderia ser muito útil. Vivendo e aprendendo.
Mas nenhum lencinho à vista. E nem lugar para comprar água. Eis que minha salvação veio através do chamado “Olha o cremosinhoooo!!”. Graças a Deus! Lá estava parada do outro lado da rua uma moça com um isopor pendurado no pescoço vendendo cremosinho (para quem não conhece, uma espécie de iogurte congelado que vem num saquinho).
Cheguei até a vendedora e pedi o meu preferido, leite condensado. Quando puxei a moeda da bolsa para pagar, percebi ela me olhando com um certo constrangimento, tentando disfarçar um riso. Até que ela gentilmente me informou que eu estava com o rosto sujo de esmalte pink. Isso que dá experimentar esmalte, não esperar secar e limpar o suor da testa com as mãos. A minha sorte é que eu tinha comprado também um vidrinho de acetona e pude limpar logo. Agradeci, peguei meu cremosinho e lá fui eu para a última parte da minha busca do dia. A loja de tecidos era minha última parada.
Andei, andei, andei e nada de chegar até a loja de tecidos. Eu sabia que ficava na outra ponta da rua, mas não lembrava de ser tão longe assim. Já estava quase chorando de tanta frustração quando... BAAAMMM!
Outra trombada, dessa vez com um policial que estava fazendo a ronda. Ele nem tomou conhecimento que esbarrou em alguma coisa, mas eu sim. Definitivamente tive consciência da trombada quando senti meu ombro latejando e vi meu cremosinho (quase na metade ainda) no chão.
Segurei o ímpeto de sentar no chão ao lado do meu finado cremosinho, abraçar as pernas junto ao peito e chorar pelo seu desperdício. E chorar pelo chapéu que não encontrei. E pela arma de brinquedo que nunca encontraria. E pela loja de tecidos que não chegava nunca.
Mas eu estava no meio da Rua Grande, e sentar no chão ali, além de anti-higiênico, seria colocar minha integridade física em risco. Por que o máximo que eu conseguiria era 45 pessoas passando por cima de mim, caindo por cima de mim e topando em mim. Dei uma última olhada para o meu tão refrescante cremosinho caído no chão, olhei para o horizonte sabendo que em algum lugar lá ao longe estava a loja de tecidos e dei as costas voltando pelo caminho por onde vim, em direção ao carro.
De volta para casa. Sem chapéu. Sem metralhadora ou sequer um revolverzinho. Sem o tecido para a roupa. Sem cremosinho. Sem esperança.
Mas com dois esmaltes novos.

(continua...)

sábado, 28 de novembro de 2009

Em busca da fantasia perdida: a saga - Parte I


Tudo começou com um simples lanche depois de uma suposta aula numa sexta à noite. Digo “suposta aula” porque, embora eu e a minha amiga estivéssemos no local onde a aula estava rolando, nós duas, como tradição de toda sexta, fomos para o curso só para nos vermos, bater papo e, invariavelmente, lanchar depois disso. E lá fomos nós.

Depois de 1 sanduíche, 1 vitamina de mamão com Neston, 1 salada de frutas (eu) e um suco de laranja (minha amiga), bem como depois de todos os babados da semana devidamente atualizados, fomos pagar a conta. Eis que nos deparamos com um folder de uma festa a fantasia no balcão do caixa.

-Olha, amiga! Festa à fantasia!

-Éguas! Massa! A programação tá bacana... Quando é?

-Daqui a uma semana, na véspera do feriado.

Olhamos uma para a outra. Aquela troca silenciosa de olhares, cúmplices, como quem diz de forma não-verbal “e aí, vamos?”, até que...

-Tô dentro!

Depois de especularmos sobre quem mais toparia ir com a gente, ficamos de entrar em contato com o resto das amigas e se programar para a festa. Dois beijinhos, abraço e cada uma tomou seu rumo para casa.


Cheguei em casa super empolgada e fui pedir ajuda à minha mãe para ideias de uma fantasia legal. Depois das sugestões tradicionais dela (enfermeira, fada, princesa de contos de fadas, melindrosa, etc) expliquei que queria uma fantasia menos comum, que eu não corresse o risco que chegar na festa e encontrar pelo menos mais 10 pessoas com a mesma fantasia. Algo que fosse feminino, mas não obviamente sexy e provocante. Até porque seria a minha própria mãe que iria fazer a fantasia, e eu não me sentiria muito bem posando de enfermeira pornô para ela marcar a bainha logo depois do cós da saia.

Desisti da minha mãe e fui pesquisar na internet. Achei umas maravilhosas, mas trabalhosas demais, e em uma semana elas não ficariam prontas. Além do que, corria o sério risco da minha mãe largar a fantasia na metade do processo por absoluta falta de paciência com este ou aquele detalhe.

Até que achei uma que adorei e simples de fazer: gângster. Não aquele gângster masculino de calça e sobretudo. Mas um modelo feminino, com vestido imitando um terninho, uma gravatinha, chapéu e coisa e tal. Um charme. Decidi por essa.

Mostrei para minha mãe e ela topou fazer o vestido. Então agora eu teria que escolher o tecido na loja e providenciar os acessórios. Fiz a listinha: chapéu da década de 20 ou 30; metralhadora ou revólver de brinquedo; meia arrastão (nada sexy, apenas... insinuante) e talvez um sobretudo feminino, só pra compor um visual que inspirasse poder.

No dia seguinte lá vou eu suuuuper empolgada para a maior rua do comércio da minha cidade (a Rua Grande. Literalmente a maior rua de comércio aqui, até no nome). Mas antes preciso fazer um pequeno parênteses.


Eu odeio ir na Rua Grande.

Vou repetir caso não tenha ficado claro.

Eu. Odeio. Ir. Na. Rua. Grande.


Aquilo lá é um inferninho, segundo a minha visão de inferninho. Calor demais, gente demais, pressa demais, camelô gritando demais, poluição visual demais, etc, etc, etc demais. Maaaaaas, consequentemente, opções demais. E a preços de menos. Além do quê, certas coisas não se encontra em shopping, só na bendita Rua Grande. É meu carma, fazer o quê?

Então nesse dia, antes de me levantar da cama, mentalizei só coisas boas, de tranquilidade e paz; um cenário leve e bucólico. Inspirei e expirei fundo umas 5 vezes antes de colocar o pé para fora da cama e iniciar o dia em que eu iria, por livre e espontânea vontade, à esse meu inferninho particular.

Um chinelinho no pé, uma calça jeans de guerra, uma camiseta de alcinhas, uma bolsa pequena (para não ficar trombando nas pessoas quando cruzar com elas), um rabo de cavalo e maquiagem zero para não ver meu rosto derretendo debaixo desse calor lazarento que faz nos trópicos (o resto os óculos escuros esconderiam). E lá fui eu. Alegrinha até demais para o padrão “Flávia-vai-à-Rua-Grande”.

Fui cedíssimo para conseguir estacionamento fácil, já que outro fator irritante do lugar são as ruas estreitas e os estacionamentos apertados. Quando cheguei ao início do caminho para minha provação do dia olhei para o céu e dei um leve sorriso pensando “pelo menos tá nublado, e não um sol a pino”.

Erro meu. No instante que terminei de pensar isso lá vem o solzão iluminando (e derretendo) tudo. Suspirei e comecei a caminhar na rua ainda quase deserta com as portas de algumas lojas ainda sendo abertas.


(continua...)

sábado, 12 de setembro de 2009

"Fígado pra mim tá ótimo!"




Quando eu era criança, domingos eram meus dias preferidos. A rotina daquele dia era singela, porém especial para mim. Acordávamos cedo, eu e minha mãe, e íamos à praia. Como nós duas somos o que se pode chamar de “desprovidas de melanina”, a regra era pegar apenas o sol saudável da manhã. Assim, logo após as onze horas recolhíamos nossas coisas e seguíamos para nossa escolha daquele domingo: um restaurante.
Cada domingo escolhíamos um diferente, e sempre que inaugurava um lá íamos nós experimentar. Quando já tínhamos ido a todos, refazíamos a peregrinação pelos que já conhecíamos e preferíamos.
Bons tempos aqueles em que eu ansiava chegar o domingo só para não comer comida caseira, e sim “comida de restaurante”. Às vezes eu tentava levar mamãe no papo e convencê-la a ir almoçar, durante a semana mesmo, fora. Não adiantava. A não ser por força maior, os almoços fora de casa eram reservados aos domingos. Ela dizia que era para manter a graça, para que não deixasse de ser o nosso “programa especial de domingo”. E assim, muitas vezes eu ficava emburrada e fazia bico para a comida caseira que eu era obrigada a comer.

Até que eu cresci. Até que meus horários começaram a se desencontrar dos da minha mãe. Até que ela resolveu que eu já era grandinha o suficiente para me virar e saber me alimentar na rua. E aí, adeus comida caseira, olá almoços de domingo. Todos os meus dias viraram domingo à hora do almoço.
Explico: o horário de trabalho da minha mãe não permite que ela faça o almoço em casa e, como não temos uma secretária, empregada, cozinheira, diarista ou seja lá como vocês chamam (não cabe nos nossos costumes, no nosso orçamento nem na nossa paciência), nada de almoço esperando por mim no fim da manhã.
Quando eu chegava do colégio, mais tarde, da faculdade e hoje em dia do trabalho, mamãe já havia saído para o trabalho e por lá mesmo ela almoçava. A mim, restava procurar um lugar para providenciar um almoço, e garanto a vocês que é melhor comprá-lo, porque não sou o que se pode chamar de às na cozinha. Pelo bem do meu organismo e pela integridade da cozinha, melhor deixar as panelas para quem as sabe usar.


Eu sei, eu sei... herdei o mal da mulher moderna: desprovida de prendas domésticas. Além do mais, dizem que esses dotes pulam uma geração, e se minha mãe é uma cozinheira de mão cheia, sabe costurar, bordar, pintar e pratica até jardinagem, só me restou como futuro de vida arranjar um diploma de nível superior.
Em outras décadas a propaganda de um pai sobre sua filha para um pretendente era tipo “Fulana faz um bolo de milho maravilhoso, além de conseguir preparar um jantar completo de primeira qualidade”, ou tipo “Fulana bordará todo o enxoval de vocês, desde as toalhas de mesa até os lençóis”.


Bom, no meu caso, meu pai teria que fazer uma propaganda minha mais voltada para meus dotes intelectuais e falar da minha extraordinária capacidade de me dar super bem com a sogra (não estou sendo irônica, isso é sério. Um dia talvez escreva um post sobre isso).

Pois bem. E hoje minha vida é uma peregrinação pelos restaurantes, botecos, lanchonetes ou qualquer outro lugar que venda algo comestível no horário do almoço. Legal, não é? Não, não é!
Pense no seu restaurante favorito, aquele que serve a carne que você adora. Ou aquele que tem uma massa divina e seu dia é mais feliz só porque você a comeu. Aquele que tem a comida mais simples, ou a mais requintada. A mais saudável ou a mais não-saudável. Não importa qual seja. Eu digo: almoce lá todos os dias, e você vai se desesperar.
Eu também tinha meus restaurantes favoritos. Até que eu tive que frequentá-los diariamente. E aí comecei a procurar outros restaurantes, e também enjoei desses. E depois passei para as lanchonetes (consegui enjoar de Mc Donald’s) e também de todos os lugares que se vende comida. Já fui dos restaurantes japoneses, passando por churrascarias e até PF’s, daqueles que você compra o almoço e leva de brinde o cheiro da comida impregnado na sua roupa, cabelo, pele e etc.
Não preciso nem falar que todos os self-services de todos os shoppings daqui já foram repetidos milhares e milhares de vezes por mim. E cheguei ao ponto até de saber quando um deles aproveitava a comida do dia anterior para fazer um outro prato no dia seguinte (“Huumm... esse bolinho de carne está parecendo aquele assado de ontem”).

Hoje quando alguém me convida para almoçar na sua casa, só falto pular de alegria. O tempero caseiro é artigo raro hoje em dia para mim, então não banco a orgulhosa quando recebo convite para almoçar na casa de amigo, namorado, parente, vizinho, o que for. Vou com o maior prazer.
Só quem tem uma rotina alimentar como a minha sabe a falta que comida caseira faz. Mas meu namorado, por exemplo, acostumado a ter uma mesa posta sempre esperando por ele no café da manhã, no almoço e no jantar (casa sempre cheia de gente tem desses privilégios) me olhava perplexo não entendendo o prazer com o qual eu comia um fígado acebolado em uma das vezes ele me convidou para almoçar na casa dele.
E pensar que quando ele fez o convite ele disse “o almoço aqui em casa hoje é fígado, mas peço pra Graça fazer outra coisa pra ti”, ao que respondi felizona “fígado pra mim tá ótimo!”




Minha mãe até hoje não acredita nesse episódio.




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terça-feira, 8 de setembro de 2009

De dentro para fora


Só quem tem uma tatuagem sabe que depois da primeira agulhada sempre fica aquela vontadezinha latente, ainda que tímida, de fazer uma segunda. E às vezes uma terceira. Aí vem a quarta. Provavelmente uma quinta e assim sucessivamente.
Mas não importa quantas tatuagens você já tenha. Não importa se você já é um “gibi” (como diz uma amiga minha) todo desenhado. Cada tatuagem deve ser pensada e repensada como uma coisa única e realmente séria. A razão disso é meio óbvia: é pra sempre.
Não se iluda com o pensamento que um tratamento a laser vai resolver seu arrependimento, porque (tentar) apagar uma tatuagem com laser dói dez vezes mais do que fazer uma, é caríssimo e o resultado não é garantido. Ou seja: depois de todo esse sofrimento físico e financeiro, pode vir o sofrimento psicológico de descobrir que aquele desenho continua na sua pele.

Algumas pessoas pensam que quem tem tatuagem sempre incentiva outras a fazerem uma também. Como se isso fosse uma moda ou um produto legal que você experimentou e indica para os amigos. Bom, não é o meu caso.
Quando alguém fala para mim “estou pensando em fazer uma”, juro que paro o que eu estiver fazendo e converso a sério com a pessoa. Dizer um alegre “Que legal! Te dou todo o apoio!” seria irresponsabilidade minha. Sempre falo da minha experiência com tatuagem, da vida real depois que se faz uma, do dia-a-dia com um desenho no corpo e dos prós e contras.

A minha intenção é fazer a pessoa analisar e realmente pensar se ela quer de verdade uma tatuagem ou se simplesmente “acha legal a idéia”. Tudo isso para evitar um arrependimento futuro, que depois ainda pode sobrar para mim (“Você me incentivou a fazer! Agora por sua culpa minha vida está arruinada!” e coisas do tipo). Se depois disso a pessoa ainda quiser fazer a tattoo, dou todo o apoio, vou no studio junto, dou pitaco no desenho e até deixo apertar minha mão para extravasar a dor na hora H.

Deixem-me esclarecer uma coisa: quando fiz minhas tatuagens não as fiz no intuito de chamar a atenção. Isso pode soar estranho aos ouvidos de quem não entende verdadeiramente o propósito de uma tatuagem, mas esses desenhos na pele são mais para mim mesma do que para os outros; tem mais a ver com o que eu quero dizer para mim mesma do que para o mundo.
É como uma lembrança diária de certas coisas. Para ser mais específica, no meu caso, é uma lembrança diária, e em desenho, do que eu sou e do que eu quero ser.

É isso aí mesmo: tatuagem tem significado para quem as leva na pele. Ou pelo menos deveria. A gênese dela está intimamente ligada a significados, remontando à época pré-histórica, onde os homens desenhavam em seus corpos essas linhas para marcar os momentos da vida biológica e social, e representar experiências. Tanto quanto uma cicatriz pode contar uma história, uma tatuagem também pode fazê-lo. E se você pensar friamente, tatauagem é uma cicatriz, só que com uma forma específica e colorida.

Por isso, tatuagem não tem que ser bonita aos olhos dos outros, não tem que agradar aos outros. Eu respeito quem não gosta de tatuagem, ou quem não gosta das minhas tatuagens. Só não consigo não responder a quem critica meus desenhos pelo simples fato de não ter um significado para ele.
Como uma vez que uma criatura disse para mim que até curtia tatuagem, mas achou “ralada” a minha fada porque era uma coisa sem significado, e então emendou dizendo que se ele fosse fazer uma, seria o rosto da mãe dele. Eu disse “é verdade, minha fada não tem significado nenhum para você. É por isso que ela está na minha pele, e não na sua. Tanto quanto seria absolutamente sem propósito o rosto da sua mãe estar no meu corpo. É por isso que ele vai estar em você, e não em mim.”
Poucas pessoas sabem o que representa a Valentina (a minha fada), e menos pessoas ainda sabem o verdadeiro significado das minhas estrelas. A relação entre as minhas duas tatuagens é uma coisa tão íntima que acho que nunca tive coragem de explicar de verdade para ninguém, porque eu me sentiria completamente vulnerável, compartilhando algo tão meu.

Tatuagem não muda caráter. Tatuagem não muda comportamento. Tatuagem não muda quem você é. Eu costumo dizer que tatuagem vem de dentro para fora; é algo que estava no seu corpo representando uma parte de você, mas só se tornou visível para o mundo depois que você sentou na cadeira do tatuador.
A Valentina é exatamente assim. Quando um dia me perguntaram como era a sensação de finalmente ter uma tatuagem eu respondi “normal, porque eu sinto como se ela sempre tivesse estado ali exatamente onde está, desde o começo.”


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quinta-feira, 26 de março de 2009

Papo de Mulherzinha

Eu não sei vocês, mas eu me divirto muito com auto-ajuda feminina, do tipo “manual da mulher moderna e bem resolvida”. Auto-afirmação desesperada é, no mínimo, engraçada.
As burradas que nós (mulheres) fazemos nessa busca contemporânea por sermos seres iguais ou melhores que os homens sem, no entanto, perder nossas características femininas são dignas de risos. Bom, isso se você tiver um bom senso de humor e souber rir de si mesma.
A parte mais engraçada? Com certeza é em matéria de relacionamentos. Eu digo relacionamentos com homens. É... relacionamentos amorosos com homens. E eu restrinjo aos relacionamentos com homens porque, se você é lésbica, você se relaciona com uma mulher, ou seja, alguém que pensa igual (ou pelo menos bem parecido) a você. Então dá para ter uma noção.


Num dia que eu não tinha nada para fazer (na verdade, num dia que eu estava com preguiça de fazer as coisas que eu tinha para fazer) caiu na minha mão um livro do tipo que tenta abrir os olhos das mulheres a respeito dos sinais que os carinhas dão tentando nos dizer que simplesmente não estão afim de nós. Só posso dizer que ri muito (de mim mesma) lendo várias situações que eu mesma vivi, ou até alguma amiga próxima.
Coisas como o fato do cara pedir seu telefone mas não ligar, e você ficar preocupada achando que aconteceu algo de grave para ele não ter ligado, e aí liga para ele para saber se está tudo bem, e no fim descobre que ele simplesmente não se interessou em te ligar. Ou as desculpas que a gente inventa para nós mesmas para justificar ele não ter aparecido quando disse que ia aparecer. E, pasmem: ficar feliz porque o cara disse que você era a mulher mais maravilhosa que ele já havia conhecido, que ele sabia que você era boa demais para ele e por isso não poderia ficar com você!Oh God!


Tudo bem, admito que sou suspeita para falar a respeito desse negócio de mulher independente e que gosta de dominar a situação (acreditem em mim quando digo que sou bem chata com isso). Mas o fato é que a Miss Independent aqui sempre comete as mesmas burradas quando o modo “apaixonada” está ligado. As convicções vão para o espaço, as certezas ficam completamente desfocadas e depois que passa eu fico me perguntando “onde raios eu estava com a cabeça?”
Já liguei para o cara que sempre dizia que ia ligar e não ligava, já fiquei com outro que dizia que me adorava mas não me namorava, já adeqüei minha agenda (milhões de vezes) só para conseguir me encaixar em algum tempo livre de outro, já escutei repetidamente a desculpa de que não tinha atendido minhas ligações porque tinha esquecido o celular no carro/em casa/no trabalho/no banheiro/na geladeira, etc, etc, etc...
E aí eu lembro que também já escutei “prefiro continuar aqui com você a ir encontrar com os meus amigos no bar” (apesar de até hoje eu achar que tinha algo por trás disso), já recebi uma ligação em cima da hora dizendo que não poderia ir lanchar comigo porque a avó tinha sofrido um enfarte e ele teve que levá-la correndo para o hospital (de onde estava ligando), mas remarcou o lanche para o dia seguinte (e compareceu!), já passei uma manhã inteira recebendo mensagens no meu celular de alguém dizendo que precisava se concentrar no trabalho mas não conseguia parar de pensar em mim, etc, etc, etc...


O fato é que (me corrijam se eu estiver errada, homens que por ventura lêem isso aqui) quando o cara quer de verdade, se interessa de verdade, não tem guerra nuclear que o impeça de ir atrás, de conquistar aquela garota que ele quer para si. Por outro lado, às vezes é simplesmente conveniente para ele estar com você. E é claro que tem as vezes que o cara quer simplesmente distância de você. Eu particularmente nunca gostei da idéia de ter que ser eu a convencer o cara de que eu sou a melhor opção para ele. Se ele não pensa isso... bom, o problema é dele.


Fica tão mais simples quando você simplesmente vê que era você mesma que estava se deixando enganar (ou mais de acordo com o que eu digo na vida real, “ser feita de otária”) e tudo isso vira até motivo de riso. Além do que, significa que está nas suas mãos mudar a situação (e eu adoro a sensação disso!).
E aí, desculpas como “não quero estragar nossa amizade”, “ando muito ocupado no trabalho”, “quero ir com calma”, “não posso ficar perto de você porque não quero que meus problemas te atinjam” e blá blá blá, passam a ser libertadoras em vez de buscas desesperadas para tentar consertar tudo e mudar o que nós somos só para se encaixar na vida dele. Sem mágoas, sem ressentimentos, sem acessos de fúria e, por favor, sem crises de choro!
Deixa pra lá!” É tão simples, não é?

Palavras de uma mulher bem resolvida (ou não).
Talvez de uma má-amada (ou não, também).

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domingo, 8 de março de 2009

Desejos de domingo

Nos últimos tempos eu tenho brincado dizendo "estou velha e fresca". Nada mais de noites inteiras na balada (só metade da noite), nada mais de aventuras que impliquem comida ruim e ausência de sono e, definitivamente, nada mais de lugares lotados, sufocantes e com confusão.
Não que eu já tenha me transformado numa velha rabugenta que resmunga até quando tocam a campainha,, mas a minha visão do paraíso hoje em dia está mais para uma rede de frente pro mar, com um livro e uma água de coco do que para uma boate lotada, salto fino e um Ice.

Essa visão do (meu) paraíso só fez ganhar força quando hoje tentei ter meu momento de abstração e relax. Domingo, 8:00hrs da manhã é uma quietude só, afinal, as pessoas curtiram tudo o que podiam no sábado à noite e a essa hora estão no 36° sono. E como estava fazendo um solzinho, resolvi aproveitar o dia na piscina do meu prédio, pegando um ventinho e lendo um livro.

Tudo perfeito, não fosse o fato de que crianças não saem no sábado à noite para ficarem de ressaca no domingo de manhã, o que significa que quando cheguei na piscina a minha visão do paraíso se dissolveu em muitos gritos infantis, água sendo espirrada para todos os lados e nenhuma tranquilidade.
Ok, vamos deixar os "pimpolhos" curtirem o dia. De volta ao ap. Quem precisa de piscina quando se tem uma sacada ventilada?

Botei uma poltrona na varanda, abri o livro e comecei a relaxar, até a hora em que uma moto com um escapamento que fazia mais barulho do que uma bateria de escola de samba me lembrou que moro de frente para uma avenida movimentada até mesmo às 9 da manhã de um domingo. Depois foi um carro de som tocando um brega nas alturas e, pra completar, um helicóptero d apolícia brincando de decolar e pousar no quartel que tem aqui pertinho.

Esquece a coleção de óculos escuros estilosos! Meu novo sonho de consumo é um chalé na beira de uma praia distante, com uma varanda bem grande onde eu possa armar uma rede e ler meu livroo tendo como único som ambiente as ondas do mar.

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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Água que cai do céu


Como boa nativa dos trópicos, ainda por cima nascida numa ilha no Nordeste do Brasil, sol era a regra para os meus “dias bons”. Dias chuvosos para mim significavam tristeza e melancolia, e só um bom motivo (ou uma obrigação séria) me faziam levantar da cama em dias cinzentos.
Não lembro bem quando foi que minha forma de ver os dias de chuva começou a mudar, mas isso me remete a um trecho de uma música que diz “you worship the sun, but now can you fall for the rain?” (numa tradução poética, seria algo como “você venera o sol, mas será que agora você pode se apaixonar pela chuva?”).


Hoje o dia amanheceu assim: chuvoso. Bastante chuvoso. E diferentemente da época em que eu amaldiçoava o dia quando isso acontecia, levantei da cama com uma sensação quase poética. A melancolia que eu sentia em dias assim transformou-se em serenidade. E assim, no trajeto da minha casa para o trabalho, mesmo debaixo de toda aquela tempestade, enquanto eu dirigia, pude ver vários fragmentos de vidas indo de lá para cá, com detalhes tão seus que a história de cada um poderia ser contada através deles.
Se dizem que a vida tem trilha sonora, o cd Líricas, de Zeca Baleiro, se encaixa perfeitamente num dia como o de hoje. A poesia, tanto nas letras quanto nas melodias desse cd foi a minha escolha para ir escutando no caminho.

Logo na 1ª música tem um trecho que diz “amores secretos debaixo dos guarda-chuvas”. Foi isso que me deu um estalo e passei a prestar mais atenção em cada guarda-chuva que passava por mim. Cada um que protegia debaixo de si uma pessoa com uma vida e uma série de detalhes. “Amores secretos” é apenas uma das coisas que um guarda-chuva pode esconder.
Ao redor há pessoas indo para o trabalho, para aula, vendendo jornais dentro de sacos plásticos vestido de capa amarela numa esquina; pessoas com os sapatos na mão e pulando as correntes de água que se formam nas sarjetas, uma mãe carregando o filho pequeno.
Há ainda aqueles que enfrentam a chuva sem proteção nenhuma, não permitindo que a água que cai do céu os impeça de seguir seus planos como de ir para academia ou mesmo correr ao ar livre. Vi pessoas andando com os seus guarda-chuvas sóbrios, alegres ou personalizados, sozinhos e solitários, ou em grupo, conversando sobre o tempo e a calamidade que uma chuva pode trazer, e ainda aqueles desprotegidos que esperavam debaixo de alguma marquise uma “carona” debaixo de um guarda-chuva conhecido.


Vi gente que não tinha nada a perder atravessando tranquilamente a ponte puxando seu cão vira-lata por uma corda que fazia as vezes de coleira deixando os pingos d’água escorrem pelo corpo e simplesmente seguindo...
O pobre do cão não tinha muita escolha se não seguir o dono (já que estava sendo puxado pela coleira), mas me pergunto o que outros dois cachorros que vi (e tinham a escolha de se abrigarem) estavam fazendo deitados numa calçada pegando chuva. Cães de rua não devem ter muito a perder também, por isso talvez não se importem de tomar um banho de chuva quando têm a oportunidade.


Dias chuvosos têm lá suas aventuras. E beleza. E poesia. E, acreditem, até filosofia para filósofos baratos como eu.
Por isso, “now I can fall for the rain”.




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sábado, 7 de fevereiro de 2009

Um tal de inferno astral

Desde a semana passada que meu horóscopo vem me avisando: "Nos próximos dias a Lua passa pela 10ª casa de seu mapa natal, fazendo oposição à Marte". Tradução: prepare-se para seu inferno astral!

As pessoas normais têm, em média, um mês de inferno astral por ano, que corresponde aos trinta dias anteriores ao seu aniversário. Mas eu, como boa pisciana - a mártir do zodíaco - carrego uma cruz um pouco maior, o que significa não um, mas uns três meses de briga entre Marte e a Lua, confluência de Urano com o Sol na 3ª casa, oposição de Vênus com a Casa de Gêmeos e seja lá mais qual for a bagunça que essa galera faz no meu mapa astral!

As coisas já começam a desandar para mim em dezembro, e continua no mesmo ritmo (decadente) por todo o mês de janeiro. Se atentarmos para o fato de que eu só faço aniversário no último dia de fevereiro, totaliza três meses. Três irritantes, estressantes e noucateantes meses. Valeu aí, astros!

A coisa agrava de verdade na primeira quinzena de fevereiro e só alivia uns três dias antes do meu aniversário. Sendo assim, eu já estava esperando ansiosamente (modo ironia ligado) as novidades desse ano quando fevereiro finalmente chegou. E acho que a bagunça estava tão ansiosa quanto eu que resolveu mostrar todo o seu potencial logo na primeira semana.
Foi assim quem na segunda-feira eu vi uma amiga do trabalho ser passada para trás, na terça soube do acidente de um amigo, na quarta vi meu pescoço em perigo por ameaça de um incompetente que só consegue progredir dando rasteira nos outros, bateram no meu carro e constatei que não vou poder fazer a cirurgia que eu quero/preciso para deixar de ser bicuda, porque em vez de guardar dinheiro, eu torrei. Na quinta me toquei que a minha monografia só tem cinco páginas e tive que enfrentar o novo "chefe" para não ser feita de burro de carga e idiota.

Mas a sexta... ah, a sexta-feira!

Desde que o mundo é mundo a sexta sempre me salvou, e ontem não foi diferente. Só que essa tão esperada sexta-feira, 06 de fevereiro de 2009, me trouxe um amor. Um amorzinho de pouco mais de 3kg e com 49 cm, que me olhou pela primeira vez de um bercinho e envolto em roupinhas verdes e fraldas.
Tudo ficou para trás. Tudo parecia fazer parte de outra vida que não a minha. A semana que passou parecia ter acontecido muito tempo atrás. Bastou eu olhar para aquela coisinha minúscula e linda que fazia poucas horas tinha sido tirada de dentro de outro amor meu: uma amiga.

Já amava esse garotinho desde antes de conhecê-lo, porque eu amo as duas criaturas que deram origem a ele. Dois amigos que eu vi se conhecerem e se apaixonarem.
As batidas de carro, os problemas no trabalho, as cirurgias - tudo ficou esquecido. Só o que tinha era aquele serzinho ali na minha frente, para eu ficar olhando e olhando até cansar.

Fiquei cheia de orgulho por ter um sobrinho tão lindo e uma amiga tão forte e corajosa, que passou por maus-bocados principalmente dias antes de trazer ao mundo aquela coisa fofa. Fiquei feliz por estar perto dessa alegria maior que existe no mundo, e por mais uma vez sentir que essas pessoas que tanto amo quiseram dividir comigo mais esse momento.

Fiquei orgulhosa, fiquei feliz e fiquei em paz. Que venha Marte, Vênus, a casa de Áries e tudo o que os astros quiserem! Davi supera tudo isso.



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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Líder X Chefe

Nem todo líder é chefe, mas para ser chefe (ou pelo menos um bom chefe) ele tem que ter as características de um líder.
Chefe, patrão, superior, supervisor, coordenador; são muitos os nomes dados a essas pessoas que comandam uma equipe na busca pela realização de um trabalho a ser feito. E para ser chefe não basta sentar numa cadeira especial, numa sala especial e assinar papéis importantes.
Um chefe deve ser a cabeça e o coração da equipe, deve saber como utilizar as habilidades de cada membro com o qual trabalha de modo a alcançar o objetivo em comum. Um chefe de verdade deve saber como harmonizar sua equipe, deve saber uni-la para que todos tenham consciência de que a sua contribuição, e a do outro também, é importante.
Somando o trabalho de um com o trabalho do outro, buscando os pontos de encaixe entre cada uma dessas peças que desordenadas não levam a nada. Mas através da figura do chefe (e talvez por isso ele também seja chamado de coordenador em alguns lugares) essa desordenação ganha sentido lógico, uma vez encaixadas as peças umas às outras por alguém com uma visão mais ampla de todas elas.
Algumas pessoas não dão bons chefes. Não por incapacidade, mas por não saberem viver e trabalhar nesse espírito de equipe. São pessoas que podem até ter muito sucesso trabalhando sozinhas (e sem subordinados), mas não tomando a frente de um grupo de pessoas.
E quando digo que um chefe deve ser também o coração da equipe é porque não basta organizar as atividades. É preciso sentir essas pessoas com as quais se trabalha, e levar para elas o espírito de cooperação, e não de competição, onde só se sobrevive se o outro se der mal.
Há chefes que pecam pelo desconhecimento técnico a respeito do trabalho. Há chefes que pecam pela inexperiência. Mas, sem dúvida, peca mais aquele chefe que não sabe ser líder.
Já tive chefes e já tive líderes. Os primeiros achavam que bastava sentar naquela cadeira especial (e geralmente foram colocados lá por “apadrinhamento”); quanto aos segundos, estes me fizeram sentir prazer em trabalhar.

Hoje sinto a falta de um líder.

domingo, 18 de janeiro de 2009

A história por trás das manchas roxas

Muito tempo ocioso na frente de um computador ligado à internet pode render algumas singelas, porém divertidas, descobertas. Como esse texto escrito por um homem a respeito de uma neura que eu nunca imaginei que os homens pudessem ter (ou será apenas ele, em específico?): a origem das manchas roxas de uma garota.

“O que me faz perder mesmo o sono são as manchas roxas que aparecem na perna da menina sem nenhuma explicação.
Por que as manchas roxas? Como chagas, surgem misteriosas pelo seu corpo, marcando meu território, maculando sua tez dulçorosa, de Dulcinéia arrebatada. E não só pelo corpo da minha, ela, mulher própria: as manchas estão em todas as mulheres do planeta. Senhoras apaixonadas, vestindo anáguas; adolescentes de estranhos humores, irritadas; crianças impúberes, de galochas e histórias (da carochinha); leitoras boazudas, cabrochas bronzeadas, de euforia que não cabe dentro dos peitos – a todas acometem as mesmas nódoas. Roxas e nas coxas, principalmente, mas também nos: braços, bunda, panturrilha e outras partes. E volto a perguntar, sem mais enrolação: por que as manchas roxas? De onde vêm?
Quando a menina chega em casa do trabalho, emancipadíssima, ou acorda aos muxoxos, fazendo malcriação, ou volta de viagem cheia de sacolas, ou sai do mar molhada de sal, nunca sabe o porquê das manchas. E, se souber, não diz. Perguntar é perda de tempo. E ficamos assim, os homens, asnos empolados, mais uma vez perdidos na escuridão da nossa ignorância infinita sobre tudo que nos é estranho, ainda que familiar, e sobre o que nos é mais alheio, ainda que tão arraigado dentro de nós: a mulher, esse singular objeto.
Seriam as manchas roxas marcas de amantes descuidados e secretos? Escapadelas pelas tardes vazias, amassos nas esquinas, escadas dos prédios e por trás de cada árvore no caminho de casa? Seriam as manchas lembranças de outros toques? Agouros dos próximos? Seriam elas memórias do seu corpo? Fantasmas te bolinando durante a noite? Eu te encoxando durante o dia?
Ou seriam trombadas e joelhaços involuntários em: cadeiras, mesas, sofás, armários, escrivaninhas, bancos, automóveis, árvores, cachorros, portas, geladeiras, grades, janelas, pedras, crianças, pias, caixas, postes e tudo o mais que puder estar a sua frente? Seriam as manchas provas roxas e materiais da sua peleja diária com o mundo e tudo que o compõe? Evidências da fragilidade do manto delicado que cobre seu corpo, em contraste com sua enorme força para o resto (incluindo gripes, cicatrizes, partos e filas de supermercado)?
Para nenhuma dessas perguntas tenho a resposta. Mas sei que vou morrer tentando descobrir.”

[ João Paulo Cuenca ]


Eu sempre tenho um estoque dessas “tão misteriosas manchas roxas”, e isso já foi objeto de desconfiança de alguém que, com certeza, tinha a teoria n° 1 em mente.
Só que (não me peçam pra escolher entre o felizmente e o infelizmente), no meu caso se aplica a teoria n° 2: trombadas e joelhaços involuntários.
Não me lembro desde quando comecei a assumir uma postura destrambelhada frente os objetos que me cercam (na verdade, eu até me lembro de costumar ser alguém que tem uma certa desenvoltura), mas já faz um tempo que o contato da minha pele com o que compõe o mundo têm resultado nessas benditas manchas roxas.
Então da próxima vez que se deparar com uma dessas marcas em mim, poupe sua imaginação devassa, porque aquela mancha na minha perna não foi porque eu estava me agarrando com um cara gato, de cabelos compridos e 3 brincos em cada orelha com ar de estrela do rock dos anos 80 num banheiro apertado durante uma festa (embora eu sempre tenha preferência pelos “caras exóticos”, e algumas amigas podem confirmar isso), mas sim porque eu calculei errado a distância entre a minha trajetória e a quina da mesa.

Mas aquele roxo no braço talvez não seja tão inocente assim...
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quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O que não foi

É impressionante como coisas bobas e fatos que não têm nada de especial podem desencadear reações, pensamentos ou situações que, na verdade, já estavam ali prontinhas pra revirar tudo, mas estava apenas aguardando o “gatilho”.
E foi uma coisa boba que aconteceu, um simples comentário que fizeram pra mim, um dia desses, que me fez voltar uns 10 anos na minha vida para imaginá-la o quanto ela poderia ter sido diferente.
Com certeza eu não teria vivido tudo o que eu vivi, nem tido as experiências que tive. Mas teria tido outras. Teria seguido outros caminhos e teria tido outras opção para escolher. Nem melhores, nem piores; apenas diferentes.
O que sempre fica é a curiosidade a respeito do que não foi, da escolha preterida, do caminho não escolhido.
Eu sei que não adianta se consumir se perguntando “e se eu tivesse feito aquilo em vez disso?”, ainda mais quando fazemos a escolha errada. Se bem que “escolha errada” depende do ponto de vista, e talvez aquele “erro” tenha sido exatamente o que você precisava naquele momento, mas apenas não tem consciência disso.
Depois de algumas experiências adotei a prática do desprendimento: o que não foi não era pra ser. E a cada bifurcação no caminho com que eu me deparava, fui aprendendo a escolher um e não olhar para trás me perguntando se eu não deveria ter escolhido o outro lado da estrada. Se não, corremos o perigo de empacar no meio do caminho sem vontade de continuar por onde escolhemos, mas também sem coragem para voltar e pegar o outro caminho que deixamos de lado.
Às vezes a maturidade de alguém não reside nas escolhas que ela faz, mas no fato dela assumir ou não as responsabilidades das suas escolhas, encarar as conseqüências delas.
Não, o comentário que eu escutei e que foi o responsável por me fazer pensar tudo isso não me fez maldizer minha escolha e minhas atitudes de 10 anos atrás, para me martirizar a respeito de tudo o que eu não vivi nesse tempo.
É só que eu imaginei (e me impressionei) com o quão diferente teria sido tudo.
Isso é estranho pra mim também, mas eu senti saudades de coisas que eu não vivi.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Enredo para uma vida


Top 5 das coisas que parecem tiradas de filme/livro mas que aconteceram DE VERDADE comigo:

1) desmaiar em um shopping em um outro país

Não bastasse eu ter passado mal sem ninguém conhecido num raio de 10 km para me amparar, o segurança do shopping que deveria ter ido até mim para ajudar, ainda me deu a maior bronca achando que eu era uma daquelas meninas anoréxicas com distúrbios alimentares que não comem porque não querem engordar. Tudo porque eu disse pra ele que o provável motivo do meu desmaio foi a queda de glicose no sangue, já que eu não tinha almoçado. Ele nem me deixou explicar que eu sou boa de garfo (ele nunca ouviu falar em metabolismo acelerado?) e a razão de eu não ter almoçado é que eu tinha passado o dia dormindo.

Falando em dormir...


2) fazer minha mãe e metade da cidade pensarem que eu tinha sido seqüestrada enquanto eu estava apenas dormindo no meu quarto

Ok, ok! Eu não durmo: eu hiberno. Foi por isso que peguei no sono às duas da tarde e quando minha mãe tocou a campainha de casa (pra variar ela tinha esquecido a chave) às sete da noite, eu não ouvi. Assim como não ouvi os próximos 3.749 toques da campainha, 856 toques do telefone, 1.394 murros na porta do apartamento e nem os 317 gritos na direção da minha janela (no 4ª andar) lá do térreo. Já convencida de que eu não estava em casa, mamãe iniciou a busca pelo meu paradeiro através de todas as pessoas conhecidas, e como ninguém tinha falado comigo desde as duas da tarde, à minha mãe só restou uma conclusão: “seqüestraram minha filha!”


3) passar 13 anos registrada como uma criança que nasceu morta

Era a primeira vez que eu, então com 13 anos, ia viajar pra fora do país, e para isso precisava tirar o passaporte. Quando apresentei minha certidão de nascimento para o funcionário do lugar de emissão de passaporte, ele analisou e perguntou com um certo espanto “quem era essa Flávia Maia”, eis que eu respondi “ué, sou eu!”. Parecia que ele tinha visto um fantasma (depois eu entendi que era isso mesmo que passava na cabeça dele) porque ele engasgou, ficou branco feito papel e saiu tropeçando na cadeira para chamar o chefe do setor. E foi o tal chefe que me explicou que eu tinha sido registrada em um livro que só era usado para registro de crianças nati-mortas. Após uma certa desconfiança de que eu poderia estar querendo assumir uma identidade falsa, ele disse que eu teria que ir até o cartório onde eu havia sido registrada para que fosse feita a correção.


4) ficar trancada do lado de fora só de camisola

Manhã preguiçosa de sábado. Mamãe batendo papo com a vizinha no corredor e eu fui botar o lixo pra fora, quando a porta bateu por causa do vento. Como por fora ela só abre com chave (e é óbvio que não estávamos com ela), eu tive que escalar da sacada da vizinha para a nossa, a três andares do chão, só de camisola, para abrir a porta por dentro.


5) achar que estava grávida por causa de um exame errado

Um inofensivo exame de sangue só pra eliminar a desconfiança de que eu poderia estar com rubéola. Mas a funcionária do laboratório trocou as bolas e ligou para minha mãe pedindo para ela me avisar que eu deveria voltar para fazer uma confirmação do exame de gravidez. Como na época eu só tinha 15 anos, dá pra imaginar o escarcéu, né?

Obs: nessa idade não tinha a menor chance de eu estar grávida, a não ser do Espírito Santo. Mas até eu explicar pra minha mãe que nariz de porco não é tomada... ou melhor: que exame de rubéola não é teste de gravidez positivo.