terça-feira, 18 de maio de 2010

Do jardim de infância à pós-graduação.


Quando você olha uma criança de dez anos, não se tem noção do que ela pode ser daqui a mais dez anos. Talvez em apenas quatro anos ela mude muito. Ou talvez apenas continue seguindo o padrão que ela vem apresentando.

Estudei a minha vida escolar inteira no mesmo colégio. Da professora que me ensinou a somar dois mais dois, até o professor que me fez absorver o mínimo necessário da matéria de química para passar no vestibular; todos eles você pode encontrar no Colégio Santa Teresa.

Ok, talvez nem todos. Talvez uns já tenham se aposentado, outros simplesmente não trabalham mais lá, e talvez um ou outro já tenha até passado dessa para uma melhor, se é que vocês me entendem. Mas meu histórico escolar está todo registrado numa única escola.

Por conta disso, dividi essa fase da minha vida com algumas pessoas que estiveram presentes por todo esse tempo, “quando a nossa personalidade é formada”; gente que também estudou a vida inteira lá, comigo. Assim como participei da vida deles e os vi se tornando o que são. A olhos vistos muita gente foi seguindo a lógica e se tornando o que se via ser. Outros surpreenderam.

Me peguei pensando nisso agora há pouco, vagando pela internet, quando parei para ler no blog de uma boate/bar daqui da minha cidade um post feito por um dos Dj’s residentes de lá que, por acaso, estudou comigo durante muito tempo no colégio.

Lembrei daquele garoto que era uns dois anos mais velho do que a maioria da nossa turma, já tinha reprovado algumas vezes, não prometia grande coisa na vida. O tempo passou, terminamos o colégio, ouvi alguns rumores a respeito dele (alguns bem maliciosos), até que um belo dia eu o vejo tocando nessa boate/bar, como Dj residente e agora escrevendo no blog sobre seu trabalho de uma forma bem segura, como alguém que sabe o que está fazendo, alguém que parece que trilhou esse caminho a vida toda.

Então puxei pela memória outros casos. Uma grande amiga da época de colégio que casou recentemente e agora está grávida. De gêmeos! Nenhum big deal nisso. Pois é... sendo quem é, eu imaginava que ela teria uma vida um pouquinho diferente do convencional. Mas o que importa é a felicidade que ela parece ter encontrado.

Tem uma outra que, apesar do contato ser esporádico hoje em dia, ainda é uma grande amiga. Ela sempre ficou com os caras mais lindos e gostosos não só do nosso colégio, mas dos outros também; sempre teve um corpão e era o desejo de todo cara. Bom, essa aí já estava de casamento marcado, mas antes que ela usasse o vestido branco e caminhasse até o altar ao som da marcha nupcial, me encomendou um sobrinho (ou sobrinha, ainda não sabemos). O diferencial nisso é que o noivo é gordinho e baixinho. E daí? É o gordinho e baixinho que tem feito a minha amiga mais feliz do que juntando todos os gatos lindos e sarados com quem ela já ficou.

Também me lembrei de um garoto que estudou comigo, um típico bagunceiro do fundão. Se ele tinha algum futuro, se havia a chance dele mostrar para todo mundo o seu potencial, essa chance não se concretizou por causa de um acidente de carro que ele sofreu e faleceu nele. Ouvi dizer que ele estava “fazendo pega” (racha de rua), mas quem sabe o que se ouve por aí, não é?

E hoje mesmo encontrei no shopping, assim como que por acaso, uma garota que estudou comigo e sempre foi a “doidinha” da turma. Cada mês era uma cor de cabelo diferente (e permita-me o veneno, um namorado novo para combinar), aquela que provou cerveja antes de toda a turma e experimentou um trago antes que a gente sequer tivesse curiosidade sobre cigarro . Pois hoje quando a encontrei, estava passeando com seus dois filhinhos (fofos e guti-guti neném), bem básica, com a maior cara de mãe de família que eu já vi na vida, com um dos gurizinhos de um lado puxando a blusa dela pedindo “sorvete, mamãe”, e ela toda amorosa com o pequenininho.

Agora estou aqui me perguntando: se esses colegas/amigos da época de escola me vissem hoje, vissem a minha vida hoje, o que diriam?

Será que eu estou dentro do previsível, como sendo aquilo que se esperava da menina que só tirava 9 e 10, a CDF da turma? “Era o que se esperava de Flávia. Sempre foi boa aluna e blá blá blá, e hoje está formada em Direito, com um bom cargo no trabalho e etc”. Ou se surpreenderiam quando me vissem e diriam tipo “Flávia? Aquela menina que era magrelinha e toda tímida? Falando alto, se acabando de dançar desse jeito e fazendo graça? Não creio!”.

(Tá, tá, tá. Magrelinha eu ainda sou. Mas aprendi que tênis e calça jeans cargo não ajuda muito no visual, então melhorei um pouquinho substituindo por uns vestidos e uns saltos altos. Na verdade acho que melhorei um bocado do colégio para hoje em dia.)

Não é uma questão de se preocupar com o que os outros pensam de mim. É curiosidade em ver as minhas mudanças sob a perspectiva dos outros, assim como eu vejo a deles. É curiosidade de saber se eu sou (na visão dos outros) o “quem diria, hein?!” ou o “era o natural acontecer”.

domingo, 29 de novembro de 2009

Em busca da fantasia perdida: a saga - Parte II


A primeira coisa que eu queria procurar era o chapéu, então ativei o radar para o modo “chapéu” e lá fui eu andando de um lado da rua procurando lojas que pudessem ter o acessório. Entrei na primeira e perguntei para um vendedor. Ele me levou até a parte da loja onde tinha vários modelos, desde o boné até as boinas, mas nada do modelo que eu queria.
Agradeci e fui sair de volta à rua. Bastou eu botar o pé para fora da loja e BAM! Trombei com algum transeunte que passava apressadamente pela calçada. Foi quando percebi que bastou eu passar um único minuto dentro de uma loja para todas as pessoas finalmente chegarem e começar o típico inferninho de sábado de manhã na Rua Grande.
Respirei fundo e lembrei a mim mesma que eu já estava preparada psicologicamente para isso, e emendei o passo. Loja aqui, loja acolá. Lojas do lado direito, lojas do lado esquerdo. “Moço, tem chapéu preto ou cinza escuro?”. “Tem de palha”. “Não, obrigada.” Sorrisinho simpático.
E assim foi. Toda loja que eu entrava e perguntava por chapéu, me mostravam um de palha, estilo panamá. Até que comecei a adaptar minha forma de abordagem. Comecei com a simples “tem chapéu preto ou cinza escuro?”, e passei para “tem chapéu escuro de tecido ou napa?”, depois fui para “tem chapéu escuro de tecido ou napa ou camurça daquele modelo clássico?”, e em seguida para “tem chapéu escuro de tecido, napa ou camurça, daquele modelo clássico estilo década de 20 ou 30?”. Até que por fim fiquei com o prático “tem chapéu tipo de gângster?”.
O problema é que invariavelmente TODAS AS VEZES o(a) vendedor(a) me oferecia o bendito chapéu de palha estilo panamá. Alguns ainda me mostravam um preto, mas quando não, era o bege mesmo. E tentavam me empurrar a qualquer custo dizendo “vai ficar legal esse”. Àquela altura eu já estava irritada com a incapacidade dos vendedores entenderem que eu queria ir fantasiada de gângster, e não de malandro ou dançarino de gafieira tipo Carlinhos de Jesus.
Mas desisti de vez do chapéu quando entrei numa loja, fiz a mesma pergunta que já tinha repetido tantas vezes e lá foi mais uma vez o vendedor me oferecer o tal chapéu de palha, estilo panamá, bege. Mais uma vez dei um sorrisinho amarelo e disse:
-Não, não é assim, obrigada.
Ao que ele me responde:
-Leva esse e pinta de preto com spray.
Levantei a vista do chapéu para olhar para o vendedor e procurar um traço de brincadeira no rosto dele. Mas ele estava falando sério. Por um momento pensei que ele já ia me indicar a loja onde eu poderia comprar o tal spray, e antes que isso acontecesse e eu mandasse ele tomar onde as patas tomam, devolvi o chapéu para ele e saí pisando duro da loja.
Depois dessa, resolvi mudar o radar para o modo “arma”. Calma, calma. Era a arma de brinquedo, que seria o próximo item dos acessórios. Eu ainda não estava com instintos homicidas (ainda!). E lá fui eu atrás de lojas de brinquedo em busca da arma que eu tinha em mente. Tal qual nos filmes que retratavam a época típica dos gângsters (década de 20 e 30) a minha ideia era de uma metralhadora daquelas antigas, não muito grande, com o tambor redondo grande. Era essa a arma que eu via em todas as fotos de fantasias de gângster, e eu queria uma igual.
Mas durante a minha busca percebi que seria mais difícil do que a odisseia do chapéu. Por quê? Por que eu sou lerda e tinha me esquecido que o Estatuto do Desarmamento proibiu a fabricação e comercialização de brinquedos que simulem armas de fogo ou que possam se confundir com elas (art. 26 da Lei nº 10.826/03). Bela bacharela em Direito que eu sou, hein?
Ou seja, brincadeira de polícia e ladrão hoje em dia voltou para época em que a gente usava os dedos indicador e polegar para simular as armas. Todo e qualquer brinquedo que simule arma de fogo saiu de circulação. Quer dizer, nem todos. Ainda são permitidas aquelas pistolinhas coloridas de água, tipo verde cana, amarelo canário e laranja fluorescente. A justificativa é que essas coisas não se confundem nem de longe com uma arma de verdade. Nem de longe mesmo!
Mas, antes que eu me lembrasse disso, ainda caí na besteira de entrar em uma loja de brinquedos e perguntar na maior inocência para o vendedor (depois de percorrer todos os corredores procurando a sessão certa) se eles tinham a tal metralhadora ou pelo menos um revolver, uma pistolinha, ou algo assim.
A reação dele foi esdrúxula. Arregalou o olho para mim e começou a me dar um sermão:
-Arma de brinquedo?! Você quer incentivar a violência colocando nas mãos de uma criança uma coisa dessas?? Por que você não pensa num presente mais saudável como um carrinho, uma bola...
Ainda meio atordoada com a reação interrompi a hemorragia verbal dele e disse:
-Calma, moço! Não é pra dar pra nenhuma criança, não. É pra mim mesma.
Acho que foi até pior, porque ele me olhou de um jeito como quem desconfia que eu estivesse planejando algo sinistro. E tive que emendar:
-É pra compor uma fantasia pra uma festa que eu vou. Vou fantasiada de gângster. E toda gângster que se preze tem que ter uma arma, né? – sorrisinho amarelo envergonhado.
Onde diabos estava a minha altivez? Eu tendo que me explicar para o vendedor quando a gente poderia se entender apenas com um simples “tem arma de brinquedo?”, “não, senhorita. Não temos”, “Ok, obrigada”. Mas não. Lá estava eu com medo que o vendedor pensasse que eu era alguma incentivadora da violência urbana e queria montar meu exército de pequenos disseminadores de balbúrdia. Ou então eu mesma ser um ícone de rebeldia violenta.
A minha humildade e preocupação acabou no instante em que ele resolveu se meter na minha escolha de fantasia:
-Por que em vez de ir de gângster você não vai de fada? Você ia ficar linda vestida de fadinha. – sorrisinho sedutor me olhando de cima a baixo.
Coméquié?! Sorrisinho sedutor?! Quer dizer que primeiro ele me dá sermão por achar que eu sou a favor da violência, e agora ele insinua uma paquera comigo? Respondi mentalmente para ele “Não vou de fadinha porque não quero encontrar sua mãe, sua irmã, sua tia e sua avó, além de mais 3456 pessoas vestidas com a mesma fantasia que eu na festa! E antes que eu me esqueça... vá se f**!!”.
Mas na prática consegui responder usando toda a minha capacidade de elevação espiritual e paciência com um simples “não, obrigada” dito entre os dentes cerrados. E mais uma vez saí pisando duro. Quase marchando. E naquela hora eu quis mesmo ter uma arma, nem que fosse de brinquedo, para pelo menos jogar na cabeça do infeliz, e rachá-la ao meio.
Quando voltei para o meio da confusão que era a rua, bateu o desespero. A manhã já tinha ido quase toda embora, o sol estava rachando, eu estava com fome, com sede e sem nenhum item da minha lista comprado. Vaguei um pouco pela rua sem saber o que fazer, com a imagem na minha mente da minha fantasia com asinhas voando para longe e me dando tchau. Até que avistei uma loja de cosméticos com uma promoção de esmaltes.
Adoooooro esmaltes! E lá fui eu toda saltitante atravessar a rua em direção à loja para salvar o dia. Pelo menos com um esmalte novo eu voltava para casa, pensei. Não seria uma manhã completamente perdida, afinal.
Escolhi dois para levar e testei um deles (pink) em uma das minhas unhas para ver se era a tonalidade que eu queria. Saí com o espírito levemente mais alegre da loja, e de volta ao calor de uns 56° que estava fazendo lá fora. Limpa suor na testa para cá, limpa suor da testa para lá. Pela primeira vez cogitei a possibilidade de comprar aqueles lencinhos de tecido que vem numa embalagem com três e que minha mãe sempre comprava para dar de presente no amigo-invisível de fim de ano do trabalho dela, caso ela tirasse um homem. Eu achava um presente tão sem graça, mas naquele momento vi que poderia ser muito útil. Vivendo e aprendendo.
Mas nenhum lencinho à vista. E nem lugar para comprar água. Eis que minha salvação veio através do chamado “Olha o cremosinhoooo!!”. Graças a Deus! Lá estava parada do outro lado da rua uma moça com um isopor pendurado no pescoço vendendo cremosinho (para quem não conhece, uma espécie de iogurte congelado que vem num saquinho).
Cheguei até a vendedora e pedi o meu preferido, leite condensado. Quando puxei a moeda da bolsa para pagar, percebi ela me olhando com um certo constrangimento, tentando disfarçar um riso. Até que ela gentilmente me informou que eu estava com o rosto sujo de esmalte pink. Isso que dá experimentar esmalte, não esperar secar e limpar o suor da testa com as mãos. A minha sorte é que eu tinha comprado também um vidrinho de acetona e pude limpar logo. Agradeci, peguei meu cremosinho e lá fui eu para a última parte da minha busca do dia. A loja de tecidos era minha última parada.
Andei, andei, andei e nada de chegar até a loja de tecidos. Eu sabia que ficava na outra ponta da rua, mas não lembrava de ser tão longe assim. Já estava quase chorando de tanta frustração quando... BAAAMMM!
Outra trombada, dessa vez com um policial que estava fazendo a ronda. Ele nem tomou conhecimento que esbarrou em alguma coisa, mas eu sim. Definitivamente tive consciência da trombada quando senti meu ombro latejando e vi meu cremosinho (quase na metade ainda) no chão.
Segurei o ímpeto de sentar no chão ao lado do meu finado cremosinho, abraçar as pernas junto ao peito e chorar pelo seu desperdício. E chorar pelo chapéu que não encontrei. E pela arma de brinquedo que nunca encontraria. E pela loja de tecidos que não chegava nunca.
Mas eu estava no meio da Rua Grande, e sentar no chão ali, além de anti-higiênico, seria colocar minha integridade física em risco. Por que o máximo que eu conseguiria era 45 pessoas passando por cima de mim, caindo por cima de mim e topando em mim. Dei uma última olhada para o meu tão refrescante cremosinho caído no chão, olhei para o horizonte sabendo que em algum lugar lá ao longe estava a loja de tecidos e dei as costas voltando pelo caminho por onde vim, em direção ao carro.
De volta para casa. Sem chapéu. Sem metralhadora ou sequer um revolverzinho. Sem o tecido para a roupa. Sem cremosinho. Sem esperança.
Mas com dois esmaltes novos.

(continua...)

sábado, 28 de novembro de 2009

Em busca da fantasia perdida: a saga - Parte I


Tudo começou com um simples lanche depois de uma suposta aula numa sexta à noite. Digo “suposta aula” porque, embora eu e a minha amiga estivéssemos no local onde a aula estava rolando, nós duas, como tradição de toda sexta, fomos para o curso só para nos vermos, bater papo e, invariavelmente, lanchar depois disso. E lá fomos nós.

Depois de 1 sanduíche, 1 vitamina de mamão com Neston, 1 salada de frutas (eu) e um suco de laranja (minha amiga), bem como depois de todos os babados da semana devidamente atualizados, fomos pagar a conta. Eis que nos deparamos com um folder de uma festa a fantasia no balcão do caixa.

-Olha, amiga! Festa à fantasia!

-Éguas! Massa! A programação tá bacana... Quando é?

-Daqui a uma semana, na véspera do feriado.

Olhamos uma para a outra. Aquela troca silenciosa de olhares, cúmplices, como quem diz de forma não-verbal “e aí, vamos?”, até que...

-Tô dentro!

Depois de especularmos sobre quem mais toparia ir com a gente, ficamos de entrar em contato com o resto das amigas e se programar para a festa. Dois beijinhos, abraço e cada uma tomou seu rumo para casa.


Cheguei em casa super empolgada e fui pedir ajuda à minha mãe para ideias de uma fantasia legal. Depois das sugestões tradicionais dela (enfermeira, fada, princesa de contos de fadas, melindrosa, etc) expliquei que queria uma fantasia menos comum, que eu não corresse o risco que chegar na festa e encontrar pelo menos mais 10 pessoas com a mesma fantasia. Algo que fosse feminino, mas não obviamente sexy e provocante. Até porque seria a minha própria mãe que iria fazer a fantasia, e eu não me sentiria muito bem posando de enfermeira pornô para ela marcar a bainha logo depois do cós da saia.

Desisti da minha mãe e fui pesquisar na internet. Achei umas maravilhosas, mas trabalhosas demais, e em uma semana elas não ficariam prontas. Além do que, corria o sério risco da minha mãe largar a fantasia na metade do processo por absoluta falta de paciência com este ou aquele detalhe.

Até que achei uma que adorei e simples de fazer: gângster. Não aquele gângster masculino de calça e sobretudo. Mas um modelo feminino, com vestido imitando um terninho, uma gravatinha, chapéu e coisa e tal. Um charme. Decidi por essa.

Mostrei para minha mãe e ela topou fazer o vestido. Então agora eu teria que escolher o tecido na loja e providenciar os acessórios. Fiz a listinha: chapéu da década de 20 ou 30; metralhadora ou revólver de brinquedo; meia arrastão (nada sexy, apenas... insinuante) e talvez um sobretudo feminino, só pra compor um visual que inspirasse poder.

No dia seguinte lá vou eu suuuuper empolgada para a maior rua do comércio da minha cidade (a Rua Grande. Literalmente a maior rua de comércio aqui, até no nome). Mas antes preciso fazer um pequeno parênteses.


Eu odeio ir na Rua Grande.

Vou repetir caso não tenha ficado claro.

Eu. Odeio. Ir. Na. Rua. Grande.


Aquilo lá é um inferninho, segundo a minha visão de inferninho. Calor demais, gente demais, pressa demais, camelô gritando demais, poluição visual demais, etc, etc, etc demais. Maaaaaas, consequentemente, opções demais. E a preços de menos. Além do quê, certas coisas não se encontra em shopping, só na bendita Rua Grande. É meu carma, fazer o quê?

Então nesse dia, antes de me levantar da cama, mentalizei só coisas boas, de tranquilidade e paz; um cenário leve e bucólico. Inspirei e expirei fundo umas 5 vezes antes de colocar o pé para fora da cama e iniciar o dia em que eu iria, por livre e espontânea vontade, à esse meu inferninho particular.

Um chinelinho no pé, uma calça jeans de guerra, uma camiseta de alcinhas, uma bolsa pequena (para não ficar trombando nas pessoas quando cruzar com elas), um rabo de cavalo e maquiagem zero para não ver meu rosto derretendo debaixo desse calor lazarento que faz nos trópicos (o resto os óculos escuros esconderiam). E lá fui eu. Alegrinha até demais para o padrão “Flávia-vai-à-Rua-Grande”.

Fui cedíssimo para conseguir estacionamento fácil, já que outro fator irritante do lugar são as ruas estreitas e os estacionamentos apertados. Quando cheguei ao início do caminho para minha provação do dia olhei para o céu e dei um leve sorriso pensando “pelo menos tá nublado, e não um sol a pino”.

Erro meu. No instante que terminei de pensar isso lá vem o solzão iluminando (e derretendo) tudo. Suspirei e comecei a caminhar na rua ainda quase deserta com as portas de algumas lojas ainda sendo abertas.


(continua...)

sábado, 12 de setembro de 2009

"Fígado pra mim tá ótimo!"




Quando eu era criança, domingos eram meus dias preferidos. A rotina daquele dia era singela, porém especial para mim. Acordávamos cedo, eu e minha mãe, e íamos à praia. Como nós duas somos o que se pode chamar de “desprovidas de melanina”, a regra era pegar apenas o sol saudável da manhã. Assim, logo após as onze horas recolhíamos nossas coisas e seguíamos para nossa escolha daquele domingo: um restaurante.
Cada domingo escolhíamos um diferente, e sempre que inaugurava um lá íamos nós experimentar. Quando já tínhamos ido a todos, refazíamos a peregrinação pelos que já conhecíamos e preferíamos.
Bons tempos aqueles em que eu ansiava chegar o domingo só para não comer comida caseira, e sim “comida de restaurante”. Às vezes eu tentava levar mamãe no papo e convencê-la a ir almoçar, durante a semana mesmo, fora. Não adiantava. A não ser por força maior, os almoços fora de casa eram reservados aos domingos. Ela dizia que era para manter a graça, para que não deixasse de ser o nosso “programa especial de domingo”. E assim, muitas vezes eu ficava emburrada e fazia bico para a comida caseira que eu era obrigada a comer.

Até que eu cresci. Até que meus horários começaram a se desencontrar dos da minha mãe. Até que ela resolveu que eu já era grandinha o suficiente para me virar e saber me alimentar na rua. E aí, adeus comida caseira, olá almoços de domingo. Todos os meus dias viraram domingo à hora do almoço.
Explico: o horário de trabalho da minha mãe não permite que ela faça o almoço em casa e, como não temos uma secretária, empregada, cozinheira, diarista ou seja lá como vocês chamam (não cabe nos nossos costumes, no nosso orçamento nem na nossa paciência), nada de almoço esperando por mim no fim da manhã.
Quando eu chegava do colégio, mais tarde, da faculdade e hoje em dia do trabalho, mamãe já havia saído para o trabalho e por lá mesmo ela almoçava. A mim, restava procurar um lugar para providenciar um almoço, e garanto a vocês que é melhor comprá-lo, porque não sou o que se pode chamar de às na cozinha. Pelo bem do meu organismo e pela integridade da cozinha, melhor deixar as panelas para quem as sabe usar.


Eu sei, eu sei... herdei o mal da mulher moderna: desprovida de prendas domésticas. Além do mais, dizem que esses dotes pulam uma geração, e se minha mãe é uma cozinheira de mão cheia, sabe costurar, bordar, pintar e pratica até jardinagem, só me restou como futuro de vida arranjar um diploma de nível superior.
Em outras décadas a propaganda de um pai sobre sua filha para um pretendente era tipo “Fulana faz um bolo de milho maravilhoso, além de conseguir preparar um jantar completo de primeira qualidade”, ou tipo “Fulana bordará todo o enxoval de vocês, desde as toalhas de mesa até os lençóis”.


Bom, no meu caso, meu pai teria que fazer uma propaganda minha mais voltada para meus dotes intelectuais e falar da minha extraordinária capacidade de me dar super bem com a sogra (não estou sendo irônica, isso é sério. Um dia talvez escreva um post sobre isso).

Pois bem. E hoje minha vida é uma peregrinação pelos restaurantes, botecos, lanchonetes ou qualquer outro lugar que venda algo comestível no horário do almoço. Legal, não é? Não, não é!
Pense no seu restaurante favorito, aquele que serve a carne que você adora. Ou aquele que tem uma massa divina e seu dia é mais feliz só porque você a comeu. Aquele que tem a comida mais simples, ou a mais requintada. A mais saudável ou a mais não-saudável. Não importa qual seja. Eu digo: almoce lá todos os dias, e você vai se desesperar.
Eu também tinha meus restaurantes favoritos. Até que eu tive que frequentá-los diariamente. E aí comecei a procurar outros restaurantes, e também enjoei desses. E depois passei para as lanchonetes (consegui enjoar de Mc Donald’s) e também de todos os lugares que se vende comida. Já fui dos restaurantes japoneses, passando por churrascarias e até PF’s, daqueles que você compra o almoço e leva de brinde o cheiro da comida impregnado na sua roupa, cabelo, pele e etc.
Não preciso nem falar que todos os self-services de todos os shoppings daqui já foram repetidos milhares e milhares de vezes por mim. E cheguei ao ponto até de saber quando um deles aproveitava a comida do dia anterior para fazer um outro prato no dia seguinte (“Huumm... esse bolinho de carne está parecendo aquele assado de ontem”).

Hoje quando alguém me convida para almoçar na sua casa, só falto pular de alegria. O tempero caseiro é artigo raro hoje em dia para mim, então não banco a orgulhosa quando recebo convite para almoçar na casa de amigo, namorado, parente, vizinho, o que for. Vou com o maior prazer.
Só quem tem uma rotina alimentar como a minha sabe a falta que comida caseira faz. Mas meu namorado, por exemplo, acostumado a ter uma mesa posta sempre esperando por ele no café da manhã, no almoço e no jantar (casa sempre cheia de gente tem desses privilégios) me olhava perplexo não entendendo o prazer com o qual eu comia um fígado acebolado em uma das vezes ele me convidou para almoçar na casa dele.
E pensar que quando ele fez o convite ele disse “o almoço aqui em casa hoje é fígado, mas peço pra Graça fazer outra coisa pra ti”, ao que respondi felizona “fígado pra mim tá ótimo!”




Minha mãe até hoje não acredita nesse episódio.




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terça-feira, 8 de setembro de 2009

De dentro para fora


Só quem tem uma tatuagem sabe que depois da primeira agulhada sempre fica aquela vontadezinha latente, ainda que tímida, de fazer uma segunda. E às vezes uma terceira. Aí vem a quarta. Provavelmente uma quinta e assim sucessivamente.
Mas não importa quantas tatuagens você já tenha. Não importa se você já é um “gibi” (como diz uma amiga minha) todo desenhado. Cada tatuagem deve ser pensada e repensada como uma coisa única e realmente séria. A razão disso é meio óbvia: é pra sempre.
Não se iluda com o pensamento que um tratamento a laser vai resolver seu arrependimento, porque (tentar) apagar uma tatuagem com laser dói dez vezes mais do que fazer uma, é caríssimo e o resultado não é garantido. Ou seja: depois de todo esse sofrimento físico e financeiro, pode vir o sofrimento psicológico de descobrir que aquele desenho continua na sua pele.

Algumas pessoas pensam que quem tem tatuagem sempre incentiva outras a fazerem uma também. Como se isso fosse uma moda ou um produto legal que você experimentou e indica para os amigos. Bom, não é o meu caso.
Quando alguém fala para mim “estou pensando em fazer uma”, juro que paro o que eu estiver fazendo e converso a sério com a pessoa. Dizer um alegre “Que legal! Te dou todo o apoio!” seria irresponsabilidade minha. Sempre falo da minha experiência com tatuagem, da vida real depois que se faz uma, do dia-a-dia com um desenho no corpo e dos prós e contras.

A minha intenção é fazer a pessoa analisar e realmente pensar se ela quer de verdade uma tatuagem ou se simplesmente “acha legal a idéia”. Tudo isso para evitar um arrependimento futuro, que depois ainda pode sobrar para mim (“Você me incentivou a fazer! Agora por sua culpa minha vida está arruinada!” e coisas do tipo). Se depois disso a pessoa ainda quiser fazer a tattoo, dou todo o apoio, vou no studio junto, dou pitaco no desenho e até deixo apertar minha mão para extravasar a dor na hora H.

Deixem-me esclarecer uma coisa: quando fiz minhas tatuagens não as fiz no intuito de chamar a atenção. Isso pode soar estranho aos ouvidos de quem não entende verdadeiramente o propósito de uma tatuagem, mas esses desenhos na pele são mais para mim mesma do que para os outros; tem mais a ver com o que eu quero dizer para mim mesma do que para o mundo.
É como uma lembrança diária de certas coisas. Para ser mais específica, no meu caso, é uma lembrança diária, e em desenho, do que eu sou e do que eu quero ser.

É isso aí mesmo: tatuagem tem significado para quem as leva na pele. Ou pelo menos deveria. A gênese dela está intimamente ligada a significados, remontando à época pré-histórica, onde os homens desenhavam em seus corpos essas linhas para marcar os momentos da vida biológica e social, e representar experiências. Tanto quanto uma cicatriz pode contar uma história, uma tatuagem também pode fazê-lo. E se você pensar friamente, tatauagem é uma cicatriz, só que com uma forma específica e colorida.

Por isso, tatuagem não tem que ser bonita aos olhos dos outros, não tem que agradar aos outros. Eu respeito quem não gosta de tatuagem, ou quem não gosta das minhas tatuagens. Só não consigo não responder a quem critica meus desenhos pelo simples fato de não ter um significado para ele.
Como uma vez que uma criatura disse para mim que até curtia tatuagem, mas achou “ralada” a minha fada porque era uma coisa sem significado, e então emendou dizendo que se ele fosse fazer uma, seria o rosto da mãe dele. Eu disse “é verdade, minha fada não tem significado nenhum para você. É por isso que ela está na minha pele, e não na sua. Tanto quanto seria absolutamente sem propósito o rosto da sua mãe estar no meu corpo. É por isso que ele vai estar em você, e não em mim.”
Poucas pessoas sabem o que representa a Valentina (a minha fada), e menos pessoas ainda sabem o verdadeiro significado das minhas estrelas. A relação entre as minhas duas tatuagens é uma coisa tão íntima que acho que nunca tive coragem de explicar de verdade para ninguém, porque eu me sentiria completamente vulnerável, compartilhando algo tão meu.

Tatuagem não muda caráter. Tatuagem não muda comportamento. Tatuagem não muda quem você é. Eu costumo dizer que tatuagem vem de dentro para fora; é algo que estava no seu corpo representando uma parte de você, mas só se tornou visível para o mundo depois que você sentou na cadeira do tatuador.
A Valentina é exatamente assim. Quando um dia me perguntaram como era a sensação de finalmente ter uma tatuagem eu respondi “normal, porque eu sinto como se ela sempre tivesse estado ali exatamente onde está, desde o começo.”


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quinta-feira, 26 de março de 2009

Papo de Mulherzinha

Eu não sei vocês, mas eu me divirto muito com auto-ajuda feminina, do tipo “manual da mulher moderna e bem resolvida”. Auto-afirmação desesperada é, no mínimo, engraçada.
As burradas que nós (mulheres) fazemos nessa busca contemporânea por sermos seres iguais ou melhores que os homens sem, no entanto, perder nossas características femininas são dignas de risos. Bom, isso se você tiver um bom senso de humor e souber rir de si mesma.
A parte mais engraçada? Com certeza é em matéria de relacionamentos. Eu digo relacionamentos com homens. É... relacionamentos amorosos com homens. E eu restrinjo aos relacionamentos com homens porque, se você é lésbica, você se relaciona com uma mulher, ou seja, alguém que pensa igual (ou pelo menos bem parecido) a você. Então dá para ter uma noção.


Num dia que eu não tinha nada para fazer (na verdade, num dia que eu estava com preguiça de fazer as coisas que eu tinha para fazer) caiu na minha mão um livro do tipo que tenta abrir os olhos das mulheres a respeito dos sinais que os carinhas dão tentando nos dizer que simplesmente não estão afim de nós. Só posso dizer que ri muito (de mim mesma) lendo várias situações que eu mesma vivi, ou até alguma amiga próxima.
Coisas como o fato do cara pedir seu telefone mas não ligar, e você ficar preocupada achando que aconteceu algo de grave para ele não ter ligado, e aí liga para ele para saber se está tudo bem, e no fim descobre que ele simplesmente não se interessou em te ligar. Ou as desculpas que a gente inventa para nós mesmas para justificar ele não ter aparecido quando disse que ia aparecer. E, pasmem: ficar feliz porque o cara disse que você era a mulher mais maravilhosa que ele já havia conhecido, que ele sabia que você era boa demais para ele e por isso não poderia ficar com você!Oh God!


Tudo bem, admito que sou suspeita para falar a respeito desse negócio de mulher independente e que gosta de dominar a situação (acreditem em mim quando digo que sou bem chata com isso). Mas o fato é que a Miss Independent aqui sempre comete as mesmas burradas quando o modo “apaixonada” está ligado. As convicções vão para o espaço, as certezas ficam completamente desfocadas e depois que passa eu fico me perguntando “onde raios eu estava com a cabeça?”
Já liguei para o cara que sempre dizia que ia ligar e não ligava, já fiquei com outro que dizia que me adorava mas não me namorava, já adeqüei minha agenda (milhões de vezes) só para conseguir me encaixar em algum tempo livre de outro, já escutei repetidamente a desculpa de que não tinha atendido minhas ligações porque tinha esquecido o celular no carro/em casa/no trabalho/no banheiro/na geladeira, etc, etc, etc...
E aí eu lembro que também já escutei “prefiro continuar aqui com você a ir encontrar com os meus amigos no bar” (apesar de até hoje eu achar que tinha algo por trás disso), já recebi uma ligação em cima da hora dizendo que não poderia ir lanchar comigo porque a avó tinha sofrido um enfarte e ele teve que levá-la correndo para o hospital (de onde estava ligando), mas remarcou o lanche para o dia seguinte (e compareceu!), já passei uma manhã inteira recebendo mensagens no meu celular de alguém dizendo que precisava se concentrar no trabalho mas não conseguia parar de pensar em mim, etc, etc, etc...


O fato é que (me corrijam se eu estiver errada, homens que por ventura lêem isso aqui) quando o cara quer de verdade, se interessa de verdade, não tem guerra nuclear que o impeça de ir atrás, de conquistar aquela garota que ele quer para si. Por outro lado, às vezes é simplesmente conveniente para ele estar com você. E é claro que tem as vezes que o cara quer simplesmente distância de você. Eu particularmente nunca gostei da idéia de ter que ser eu a convencer o cara de que eu sou a melhor opção para ele. Se ele não pensa isso... bom, o problema é dele.


Fica tão mais simples quando você simplesmente vê que era você mesma que estava se deixando enganar (ou mais de acordo com o que eu digo na vida real, “ser feita de otária”) e tudo isso vira até motivo de riso. Além do que, significa que está nas suas mãos mudar a situação (e eu adoro a sensação disso!).
E aí, desculpas como “não quero estragar nossa amizade”, “ando muito ocupado no trabalho”, “quero ir com calma”, “não posso ficar perto de você porque não quero que meus problemas te atinjam” e blá blá blá, passam a ser libertadoras em vez de buscas desesperadas para tentar consertar tudo e mudar o que nós somos só para se encaixar na vida dele. Sem mágoas, sem ressentimentos, sem acessos de fúria e, por favor, sem crises de choro!
Deixa pra lá!” É tão simples, não é?

Palavras de uma mulher bem resolvida (ou não).
Talvez de uma má-amada (ou não, também).

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domingo, 8 de março de 2009

Desejos de domingo

Nos últimos tempos eu tenho brincado dizendo "estou velha e fresca". Nada mais de noites inteiras na balada (só metade da noite), nada mais de aventuras que impliquem comida ruim e ausência de sono e, definitivamente, nada mais de lugares lotados, sufocantes e com confusão.
Não que eu já tenha me transformado numa velha rabugenta que resmunga até quando tocam a campainha,, mas a minha visão do paraíso hoje em dia está mais para uma rede de frente pro mar, com um livro e uma água de coco do que para uma boate lotada, salto fino e um Ice.

Essa visão do (meu) paraíso só fez ganhar força quando hoje tentei ter meu momento de abstração e relax. Domingo, 8:00hrs da manhã é uma quietude só, afinal, as pessoas curtiram tudo o que podiam no sábado à noite e a essa hora estão no 36° sono. E como estava fazendo um solzinho, resolvi aproveitar o dia na piscina do meu prédio, pegando um ventinho e lendo um livro.

Tudo perfeito, não fosse o fato de que crianças não saem no sábado à noite para ficarem de ressaca no domingo de manhã, o que significa que quando cheguei na piscina a minha visão do paraíso se dissolveu em muitos gritos infantis, água sendo espirrada para todos os lados e nenhuma tranquilidade.
Ok, vamos deixar os "pimpolhos" curtirem o dia. De volta ao ap. Quem precisa de piscina quando se tem uma sacada ventilada?

Botei uma poltrona na varanda, abri o livro e comecei a relaxar, até a hora em que uma moto com um escapamento que fazia mais barulho do que uma bateria de escola de samba me lembrou que moro de frente para uma avenida movimentada até mesmo às 9 da manhã de um domingo. Depois foi um carro de som tocando um brega nas alturas e, pra completar, um helicóptero d apolícia brincando de decolar e pousar no quartel que tem aqui pertinho.

Esquece a coleção de óculos escuros estilosos! Meu novo sonho de consumo é um chalé na beira de uma praia distante, com uma varanda bem grande onde eu possa armar uma rede e ler meu livroo tendo como único som ambiente as ondas do mar.

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