sábado, 28 de novembro de 2009

Em busca da fantasia perdida: a saga - Parte I


Tudo começou com um simples lanche depois de uma suposta aula numa sexta à noite. Digo “suposta aula” porque, embora eu e a minha amiga estivéssemos no local onde a aula estava rolando, nós duas, como tradição de toda sexta, fomos para o curso só para nos vermos, bater papo e, invariavelmente, lanchar depois disso. E lá fomos nós.

Depois de 1 sanduíche, 1 vitamina de mamão com Neston, 1 salada de frutas (eu) e um suco de laranja (minha amiga), bem como depois de todos os babados da semana devidamente atualizados, fomos pagar a conta. Eis que nos deparamos com um folder de uma festa a fantasia no balcão do caixa.

-Olha, amiga! Festa à fantasia!

-Éguas! Massa! A programação tá bacana... Quando é?

-Daqui a uma semana, na véspera do feriado.

Olhamos uma para a outra. Aquela troca silenciosa de olhares, cúmplices, como quem diz de forma não-verbal “e aí, vamos?”, até que...

-Tô dentro!

Depois de especularmos sobre quem mais toparia ir com a gente, ficamos de entrar em contato com o resto das amigas e se programar para a festa. Dois beijinhos, abraço e cada uma tomou seu rumo para casa.


Cheguei em casa super empolgada e fui pedir ajuda à minha mãe para ideias de uma fantasia legal. Depois das sugestões tradicionais dela (enfermeira, fada, princesa de contos de fadas, melindrosa, etc) expliquei que queria uma fantasia menos comum, que eu não corresse o risco que chegar na festa e encontrar pelo menos mais 10 pessoas com a mesma fantasia. Algo que fosse feminino, mas não obviamente sexy e provocante. Até porque seria a minha própria mãe que iria fazer a fantasia, e eu não me sentiria muito bem posando de enfermeira pornô para ela marcar a bainha logo depois do cós da saia.

Desisti da minha mãe e fui pesquisar na internet. Achei umas maravilhosas, mas trabalhosas demais, e em uma semana elas não ficariam prontas. Além do que, corria o sério risco da minha mãe largar a fantasia na metade do processo por absoluta falta de paciência com este ou aquele detalhe.

Até que achei uma que adorei e simples de fazer: gângster. Não aquele gângster masculino de calça e sobretudo. Mas um modelo feminino, com vestido imitando um terninho, uma gravatinha, chapéu e coisa e tal. Um charme. Decidi por essa.

Mostrei para minha mãe e ela topou fazer o vestido. Então agora eu teria que escolher o tecido na loja e providenciar os acessórios. Fiz a listinha: chapéu da década de 20 ou 30; metralhadora ou revólver de brinquedo; meia arrastão (nada sexy, apenas... insinuante) e talvez um sobretudo feminino, só pra compor um visual que inspirasse poder.

No dia seguinte lá vou eu suuuuper empolgada para a maior rua do comércio da minha cidade (a Rua Grande. Literalmente a maior rua de comércio aqui, até no nome). Mas antes preciso fazer um pequeno parênteses.


Eu odeio ir na Rua Grande.

Vou repetir caso não tenha ficado claro.

Eu. Odeio. Ir. Na. Rua. Grande.


Aquilo lá é um inferninho, segundo a minha visão de inferninho. Calor demais, gente demais, pressa demais, camelô gritando demais, poluição visual demais, etc, etc, etc demais. Maaaaaas, consequentemente, opções demais. E a preços de menos. Além do quê, certas coisas não se encontra em shopping, só na bendita Rua Grande. É meu carma, fazer o quê?

Então nesse dia, antes de me levantar da cama, mentalizei só coisas boas, de tranquilidade e paz; um cenário leve e bucólico. Inspirei e expirei fundo umas 5 vezes antes de colocar o pé para fora da cama e iniciar o dia em que eu iria, por livre e espontânea vontade, à esse meu inferninho particular.

Um chinelinho no pé, uma calça jeans de guerra, uma camiseta de alcinhas, uma bolsa pequena (para não ficar trombando nas pessoas quando cruzar com elas), um rabo de cavalo e maquiagem zero para não ver meu rosto derretendo debaixo desse calor lazarento que faz nos trópicos (o resto os óculos escuros esconderiam). E lá fui eu. Alegrinha até demais para o padrão “Flávia-vai-à-Rua-Grande”.

Fui cedíssimo para conseguir estacionamento fácil, já que outro fator irritante do lugar são as ruas estreitas e os estacionamentos apertados. Quando cheguei ao início do caminho para minha provação do dia olhei para o céu e dei um leve sorriso pensando “pelo menos tá nublado, e não um sol a pino”.

Erro meu. No instante que terminei de pensar isso lá vem o solzão iluminando (e derretendo) tudo. Suspirei e comecei a caminhar na rua ainda quase deserta com as portas de algumas lojas ainda sendo abertas.


(continua...)

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