quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Água que cai do céu


Como boa nativa dos trópicos, ainda por cima nascida numa ilha no Nordeste do Brasil, sol era a regra para os meus “dias bons”. Dias chuvosos para mim significavam tristeza e melancolia, e só um bom motivo (ou uma obrigação séria) me faziam levantar da cama em dias cinzentos.
Não lembro bem quando foi que minha forma de ver os dias de chuva começou a mudar, mas isso me remete a um trecho de uma música que diz “you worship the sun, but now can you fall for the rain?” (numa tradução poética, seria algo como “você venera o sol, mas será que agora você pode se apaixonar pela chuva?”).


Hoje o dia amanheceu assim: chuvoso. Bastante chuvoso. E diferentemente da época em que eu amaldiçoava o dia quando isso acontecia, levantei da cama com uma sensação quase poética. A melancolia que eu sentia em dias assim transformou-se em serenidade. E assim, no trajeto da minha casa para o trabalho, mesmo debaixo de toda aquela tempestade, enquanto eu dirigia, pude ver vários fragmentos de vidas indo de lá para cá, com detalhes tão seus que a história de cada um poderia ser contada através deles.
Se dizem que a vida tem trilha sonora, o cd Líricas, de Zeca Baleiro, se encaixa perfeitamente num dia como o de hoje. A poesia, tanto nas letras quanto nas melodias desse cd foi a minha escolha para ir escutando no caminho.

Logo na 1ª música tem um trecho que diz “amores secretos debaixo dos guarda-chuvas”. Foi isso que me deu um estalo e passei a prestar mais atenção em cada guarda-chuva que passava por mim. Cada um que protegia debaixo de si uma pessoa com uma vida e uma série de detalhes. “Amores secretos” é apenas uma das coisas que um guarda-chuva pode esconder.
Ao redor há pessoas indo para o trabalho, para aula, vendendo jornais dentro de sacos plásticos vestido de capa amarela numa esquina; pessoas com os sapatos na mão e pulando as correntes de água que se formam nas sarjetas, uma mãe carregando o filho pequeno.
Há ainda aqueles que enfrentam a chuva sem proteção nenhuma, não permitindo que a água que cai do céu os impeça de seguir seus planos como de ir para academia ou mesmo correr ao ar livre. Vi pessoas andando com os seus guarda-chuvas sóbrios, alegres ou personalizados, sozinhos e solitários, ou em grupo, conversando sobre o tempo e a calamidade que uma chuva pode trazer, e ainda aqueles desprotegidos que esperavam debaixo de alguma marquise uma “carona” debaixo de um guarda-chuva conhecido.


Vi gente que não tinha nada a perder atravessando tranquilamente a ponte puxando seu cão vira-lata por uma corda que fazia as vezes de coleira deixando os pingos d’água escorrem pelo corpo e simplesmente seguindo...
O pobre do cão não tinha muita escolha se não seguir o dono (já que estava sendo puxado pela coleira), mas me pergunto o que outros dois cachorros que vi (e tinham a escolha de se abrigarem) estavam fazendo deitados numa calçada pegando chuva. Cães de rua não devem ter muito a perder também, por isso talvez não se importem de tomar um banho de chuva quando têm a oportunidade.


Dias chuvosos têm lá suas aventuras. E beleza. E poesia. E, acreditem, até filosofia para filósofos baratos como eu.
Por isso, “now I can fall for the rain”.




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sábado, 7 de fevereiro de 2009

Um tal de inferno astral

Desde a semana passada que meu horóscopo vem me avisando: "Nos próximos dias a Lua passa pela 10ª casa de seu mapa natal, fazendo oposição à Marte". Tradução: prepare-se para seu inferno astral!

As pessoas normais têm, em média, um mês de inferno astral por ano, que corresponde aos trinta dias anteriores ao seu aniversário. Mas eu, como boa pisciana - a mártir do zodíaco - carrego uma cruz um pouco maior, o que significa não um, mas uns três meses de briga entre Marte e a Lua, confluência de Urano com o Sol na 3ª casa, oposição de Vênus com a Casa de Gêmeos e seja lá mais qual for a bagunça que essa galera faz no meu mapa astral!

As coisas já começam a desandar para mim em dezembro, e continua no mesmo ritmo (decadente) por todo o mês de janeiro. Se atentarmos para o fato de que eu só faço aniversário no último dia de fevereiro, totaliza três meses. Três irritantes, estressantes e noucateantes meses. Valeu aí, astros!

A coisa agrava de verdade na primeira quinzena de fevereiro e só alivia uns três dias antes do meu aniversário. Sendo assim, eu já estava esperando ansiosamente (modo ironia ligado) as novidades desse ano quando fevereiro finalmente chegou. E acho que a bagunça estava tão ansiosa quanto eu que resolveu mostrar todo o seu potencial logo na primeira semana.
Foi assim quem na segunda-feira eu vi uma amiga do trabalho ser passada para trás, na terça soube do acidente de um amigo, na quarta vi meu pescoço em perigo por ameaça de um incompetente que só consegue progredir dando rasteira nos outros, bateram no meu carro e constatei que não vou poder fazer a cirurgia que eu quero/preciso para deixar de ser bicuda, porque em vez de guardar dinheiro, eu torrei. Na quinta me toquei que a minha monografia só tem cinco páginas e tive que enfrentar o novo "chefe" para não ser feita de burro de carga e idiota.

Mas a sexta... ah, a sexta-feira!

Desde que o mundo é mundo a sexta sempre me salvou, e ontem não foi diferente. Só que essa tão esperada sexta-feira, 06 de fevereiro de 2009, me trouxe um amor. Um amorzinho de pouco mais de 3kg e com 49 cm, que me olhou pela primeira vez de um bercinho e envolto em roupinhas verdes e fraldas.
Tudo ficou para trás. Tudo parecia fazer parte de outra vida que não a minha. A semana que passou parecia ter acontecido muito tempo atrás. Bastou eu olhar para aquela coisinha minúscula e linda que fazia poucas horas tinha sido tirada de dentro de outro amor meu: uma amiga.

Já amava esse garotinho desde antes de conhecê-lo, porque eu amo as duas criaturas que deram origem a ele. Dois amigos que eu vi se conhecerem e se apaixonarem.
As batidas de carro, os problemas no trabalho, as cirurgias - tudo ficou esquecido. Só o que tinha era aquele serzinho ali na minha frente, para eu ficar olhando e olhando até cansar.

Fiquei cheia de orgulho por ter um sobrinho tão lindo e uma amiga tão forte e corajosa, que passou por maus-bocados principalmente dias antes de trazer ao mundo aquela coisa fofa. Fiquei feliz por estar perto dessa alegria maior que existe no mundo, e por mais uma vez sentir que essas pessoas que tanto amo quiseram dividir comigo mais esse momento.

Fiquei orgulhosa, fiquei feliz e fiquei em paz. Que venha Marte, Vênus, a casa de Áries e tudo o que os astros quiserem! Davi supera tudo isso.



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