terça-feira, 8 de setembro de 2009

De dentro para fora


Só quem tem uma tatuagem sabe que depois da primeira agulhada sempre fica aquela vontadezinha latente, ainda que tímida, de fazer uma segunda. E às vezes uma terceira. Aí vem a quarta. Provavelmente uma quinta e assim sucessivamente.
Mas não importa quantas tatuagens você já tenha. Não importa se você já é um “gibi” (como diz uma amiga minha) todo desenhado. Cada tatuagem deve ser pensada e repensada como uma coisa única e realmente séria. A razão disso é meio óbvia: é pra sempre.
Não se iluda com o pensamento que um tratamento a laser vai resolver seu arrependimento, porque (tentar) apagar uma tatuagem com laser dói dez vezes mais do que fazer uma, é caríssimo e o resultado não é garantido. Ou seja: depois de todo esse sofrimento físico e financeiro, pode vir o sofrimento psicológico de descobrir que aquele desenho continua na sua pele.

Algumas pessoas pensam que quem tem tatuagem sempre incentiva outras a fazerem uma também. Como se isso fosse uma moda ou um produto legal que você experimentou e indica para os amigos. Bom, não é o meu caso.
Quando alguém fala para mim “estou pensando em fazer uma”, juro que paro o que eu estiver fazendo e converso a sério com a pessoa. Dizer um alegre “Que legal! Te dou todo o apoio!” seria irresponsabilidade minha. Sempre falo da minha experiência com tatuagem, da vida real depois que se faz uma, do dia-a-dia com um desenho no corpo e dos prós e contras.

A minha intenção é fazer a pessoa analisar e realmente pensar se ela quer de verdade uma tatuagem ou se simplesmente “acha legal a idéia”. Tudo isso para evitar um arrependimento futuro, que depois ainda pode sobrar para mim (“Você me incentivou a fazer! Agora por sua culpa minha vida está arruinada!” e coisas do tipo). Se depois disso a pessoa ainda quiser fazer a tattoo, dou todo o apoio, vou no studio junto, dou pitaco no desenho e até deixo apertar minha mão para extravasar a dor na hora H.

Deixem-me esclarecer uma coisa: quando fiz minhas tatuagens não as fiz no intuito de chamar a atenção. Isso pode soar estranho aos ouvidos de quem não entende verdadeiramente o propósito de uma tatuagem, mas esses desenhos na pele são mais para mim mesma do que para os outros; tem mais a ver com o que eu quero dizer para mim mesma do que para o mundo.
É como uma lembrança diária de certas coisas. Para ser mais específica, no meu caso, é uma lembrança diária, e em desenho, do que eu sou e do que eu quero ser.

É isso aí mesmo: tatuagem tem significado para quem as leva na pele. Ou pelo menos deveria. A gênese dela está intimamente ligada a significados, remontando à época pré-histórica, onde os homens desenhavam em seus corpos essas linhas para marcar os momentos da vida biológica e social, e representar experiências. Tanto quanto uma cicatriz pode contar uma história, uma tatuagem também pode fazê-lo. E se você pensar friamente, tatauagem é uma cicatriz, só que com uma forma específica e colorida.

Por isso, tatuagem não tem que ser bonita aos olhos dos outros, não tem que agradar aos outros. Eu respeito quem não gosta de tatuagem, ou quem não gosta das minhas tatuagens. Só não consigo não responder a quem critica meus desenhos pelo simples fato de não ter um significado para ele.
Como uma vez que uma criatura disse para mim que até curtia tatuagem, mas achou “ralada” a minha fada porque era uma coisa sem significado, e então emendou dizendo que se ele fosse fazer uma, seria o rosto da mãe dele. Eu disse “é verdade, minha fada não tem significado nenhum para você. É por isso que ela está na minha pele, e não na sua. Tanto quanto seria absolutamente sem propósito o rosto da sua mãe estar no meu corpo. É por isso que ele vai estar em você, e não em mim.”
Poucas pessoas sabem o que representa a Valentina (a minha fada), e menos pessoas ainda sabem o verdadeiro significado das minhas estrelas. A relação entre as minhas duas tatuagens é uma coisa tão íntima que acho que nunca tive coragem de explicar de verdade para ninguém, porque eu me sentiria completamente vulnerável, compartilhando algo tão meu.

Tatuagem não muda caráter. Tatuagem não muda comportamento. Tatuagem não muda quem você é. Eu costumo dizer que tatuagem vem de dentro para fora; é algo que estava no seu corpo representando uma parte de você, mas só se tornou visível para o mundo depois que você sentou na cadeira do tatuador.
A Valentina é exatamente assim. Quando um dia me perguntaram como era a sensação de finalmente ter uma tatuagem eu respondi “normal, porque eu sinto como se ela sempre tivesse estado ali exatamente onde está, desde o começo.”


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Um comentário:

  1. concordo plenamente com tudo Flavinha!acho q tatuagem é algo para ser pensado mto antes de fazr, pq é algo para praticamente uma vida toda....eu tenho duas, e entendo perfeitamente o que vc quer dizer com fazer para si mesma, uma das minhas tattoos é em um lugar super escondido, e fiz para mim, não para mostrar...é algo que deveria ter nascido comigo!rsrsrsrs
    eu nunca incentivei ngem a fazr uma tatuagem, pq sou totalmente contra tatuagem da modinha...
    que beleza que resolveu escrever!iupiiii!seja bem vinda novamente a blogosfera!rsrsrsrs
    bjãoo

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